Pós-Cirurgia de Tireóide (3)

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Terça-feira, dia 26 de maio (quase uma semana depois da minha cirurgia de tireóide).
mackflores2 Flores dos amigos do Mackenzie

Para quem está me lendo pela primeira vez, comecei falando sobre os meus problemas com a tireóide aqui, continuando aqui, aqui e aqui.

Estou melhorando diariamente. Devo retirar os pontos amanhã à tarde, na consulta marcada com o cirurgião, e conversar com ele sobre várias coisas que ainda me intrigam, preocupam ou incomodam.

Sabendo agora de uma prima que está se preparando para fazer a mesma cirurgia e de outra amiga que ainda precisa levar os resultados ao médico, resolvi tentar descrever a minha experiência. Creio que vale a pena para elas e outros saberem que algumas coisas podem ser consideradas “normais”, pois os médicos nos dizem muito pouco.

Vou iniciar com uma tradução da carta que escrevi em inglês para meus parentes e, depois, postar mais algumas atualizações e ponderações, o Senhor Deus permitindo.

Sugiro que continue lendo apenas se tiver interesse neste assunto. Se não tiver, use o tempo para abençoar alguém. Ainda espero concluir a série sobre “companheirismo no casamento” e, tenho certeza, surgirão outros temas.

Quinta-feira, 21 de maio (2º dia pós-cirurgia)

Querida Família:
Estou escrevendo para compartilhar que passei por minha cirurgia de tireóide na terça à tarde e que cheguei em casa quarta à noite (ontem). O hospital, os médicos e as enfermeiras foram muito agradáveis e competentes no seu jeito de ser e trabalhar, e bem-organizados também. Já na sala de recuperação, o anestesista e atendentes iam e voltavam, dizendo coisas que não me lembro mais quais eram. Percebi imediatamente que meu lábio estava rasgado e inchado, mas ninguém com quem falei admitiu que foi provocado pela cirurgia. Uma pessoa até me perguntou se eu não havia chegado assim?! (Solano dentro de pouco tempo concluiu que foi por causa dos tubos que me inseriram). Senti muito frio (como sempre acontece comigo após cirurgias), mas eles foram me aquecendo e, aos poucos, fui despertando. Ainda lá, o médico veio e me disse que a tireóide e seus nódulos foram grandes e trabalhosos para extrair, mas que não parecia haver indicação de câncer. Ele também chamou G (minha filha) e Solano para o andar cirúrgico para dizer-lhes a mesma coisa e dar mais explicações e instruções. G quase que morreu de susto com aquele pedido de reunião, em uma salinha apropriada. Pensou, lembrando dos muitos filmes de hospitais que já assistiu, que só poderiam ser más notícias, que precisavam ser dadas longe do paciente! Mas não era nada disso.

O hospital (Nove de Julho) foi muito bom. Solano recebeu instruções detalhadas e os números das extensões das pessoas que atendem no andar cirúrgico para as quais poderia ligar para saber do andamento do procedimento e também para quando eu estivesse na sala de recuperação. Além disso, também foram atualizando sobre a minha situação, ligando para o quarto e falando com minha família, para explicar o atraso em começar, onde eu estava, etc. Creio que este foi o melhor serviço que já tivemos nesta área. Uma brochura que entregaram, assim que eu entrei para a cirurgia, continha as instruções escritas, dizendo “entendemos a apreensão dos familiares e queremos ter a oportunidade de fornecer todas as informações possíveis durante o procedimento cirúrgico”. O processo de internação também foi conduzido de maneira rápida, digna e eficiente. Uma moça ligou para mim no dia anterior para pegar os principais dados e dar instruções.

As primeiras horas depois de uma cirurgia com anestesia geral sempre são meio nebulosas, mas lembro-me de ter visto D (nosso filho do meio) rapidamente. Ele precisava me dar um beijo antes de correr para encontrar A (sua esposa) que também estava lá, mas que precisou sair para tirar o carro do estacionamento que fechava às 20 horas. Foi bom revê-lo porque havia voltado de Índia/Bangladesh naquela manhã— ele foi o primeiro da nossa família a ver meu neto, o pequeno Lucas, pessoalmente (agora com quatro meses).

(Vou adicionar uma explicação aqui. Há umas poucas semanas, D soube que teria que ir para Índia, a trabalho. Pela terceira vez… Partiu numa sexta-feira para participar de um evento lá na segunda. Mas a cabeça dele e do seu irmão começaram logo a trabalhar. Índia fica ao lado do Bangladesh. Será que daria para ir lá, em termos de tempo, de finanças, de visto? No fim, ele recebeu a aprovação da firma para prolongar a estadia um pouco, e comprou passagens de ida e volta entre Delhi e Daca. Passou cinco dias com o irmão mais velho e assim pode ver e conhecer o contexto da sua vida durante estes últimos anos. Conheceu a casa, os amigos, a igreja… Andou em riquixás, no trânsito de lá, viu e cheirou a pobreza, ouviu os sons, entrou nas lojas, comeu a comida, interagiu com o povo, ouviu as chamadas a oração das mesquitas… Conheceu os cristãos de lá… Foi tão bom ver os dois irmãos rindo e brincando juntos pelo Skype, com o pequeno Lucas nos braços do tio).

banglaone

Meus filhos, nora e neto em Bangladesh

Voltando à minha carta… O noivo da G também chegou, providenciou comida para eles, e depois levou-a à nossa casa para ficar com os avós. Sei que eu também comi – lembro-me vagamente de engolir gelatina e chá (sem dor) e de estranhar a oferta de bolachas. (Nesta parte foi diferente do que eu esperava—nada de papinhas e sopinhas apenas. O almoço e jantar do dia seguinte vieram com carne para cortar e mastigar.)

Solano ficou comigo na primeira noite. Eu podia falar (mas não muito) e tinha que dormir de “papo pra cima” por causa do corte na garganta (de uns 7 a 8 centímetros) mais o dreno que haviam colocado num furo abaixo disso. Odeio dormir assim—sempre me dá pesadelos—o que nunca é bom, mas que é pior quando a gente já se sente mal. Mas Solano colocou uns travesseiros em cada lado da minha cabeça para eu poder descansar com o rosto parcialmente virado e consegui pegar no sono repetidamente entre as interrupções das enfermeiras que vinham medir pressão e temperatura e injetar remédios. Creio que ele dormiu muito menos do que eu.

G voltou cedinho (havia tirado o dia para ficar comigo) e Solano saiu para trabalhar. Ficamos num bom apartamento com banheiro, armário, geladeira, TV, mesa, sofá-cama e cadeira reclinável, bem ao lado do posto de enfermagem. Assim, Solano e G apenas precisavam abrir a porta e sorrir e elas já vinham atender. Passamos o dia descansando, vendo TV e olhando revistas de noiva (com G ligando para fotógrafos—eles acertaram esta parte no sábado seguinte). Vi os filmes que Daniel havia gravado em Bangladesh—como meu netinho é lindo e sorridente! (Tinham passado para meu computador do pen drive dele). Também ouvi parte de um sermão que G gravou no meu I-pod, mas não consegui me concentrar muito bem.

Quase que fiquei uma noite a mais porque comecei a ter formigamento nas mãos e nos braços, que evidenciava deficiência de cálcio. O médico já havia prevenido que isto poderia acontecer e me disse para ficar com calma nestas horas, senão poderia piorar. (!!!) Se chegasse a ter cãibras, teria que voltar ao hospital para medirem o cálcio no sangue e me medicar. Foi o que fizeram naquela hora, pingando um produto com cálcio no soro. O formigamento diminuiu. Só que a agulha saiu da veia e eu não notei até meu braço ficar bastante inchado. Foi um susto. Mas a enfermeira imediatamente improvisou uma “bolsa térmica” com água quente numa luva descartável. Fiquei com isto até a hora de partir. Parecia um balão transparente em cima de outro, cor de pele.

(Nota posterior de Betty—Saí do hospital com o rosto de Nanny McPhee e o braço de uma boneca gordinha (com a mão parecendo estranhamente diminuta na extremidade, pois a fita que segurava o cateter havia impedido que o líquido fluísse até ela. Subsequentemente, a mão também inchou, mas no dia seguinte já estava bem melhor. Esta não é a primeira vez que isto me acontece—creio que deve ser algo bem comum até.)

Nesta primeira noite em casa, com o dreno removido, até consegui dormir um pouco melhor, mas o dia de hoje é meio desconfortável (o segundo dia normalmente é). Nada seriamente errado, apenas desconforto generalizado, e dor para engolir, mais até nas costas do que na garganta. O lábio diminuiu um pouco em tamanho, mas o branco do ferimento está enorme.

Seguindo ordens médicas, engoli nove comprimidos no café de manhã—os dois que normalmente tomo (para coração) mais o de tireóide que tomarei para sempre, omeprazol para forrar o estomago, antibiótico, três para cálcio e uma para dor. Mais uma pastilha para chupar 4 vezes ao dia, para aliviar a garganta. Estarei tomando cálcio em todas as refeições. Creio que é porque mexeram com as glândulas paratireóides (que, felizmente, não precisaram retirar) e isto causa o desequilíbrio na distribuição de cálcio.

Devo ficar em casa durante uma semana, tomando todos estes comprimidos, e depois ir ao médico para receber instruções adicionais.

Muitas pessoas ligaram e escreveram. Minha casa está cheia de flores (três buquês). Sinto-me amada e paparicada. Acabo de falar com D e T no Skype e vi novamente o pequeno Lucas. Segue o link para o site dele com imagens da visita de D a Bangladesh… Muitas de vocês já receberam o seu relato das “aventuras” da viagem toda. Já soube que andam dizendo que parecia uma “epístola de (Tia) Betty”.

Está na hora do almoço e vou parar por agora. Nossas ajudantes maravilhosas têm cuidado de tudo, até das compras que normalmente faço, e Mamãe está sempre checando para ver se preciso de algo.

Mandem notícias.
Com Amor, (Tia) Betty/ Mamãe

(Continua aqui)

452 Comentários a “Pós-Cirurgia de Tireóide (3)”

  1. Bruna Cremonini disse:

    Oi, Boa Tarde Betty!!

    Que bom que encontrei você, a alguns dias atras em exames de rotina, descobri que tenho nódulos na tireoide, apos punção com resultado Neoplasia folicular ou suspeito para neoplasia folicular IV, foi me indicado a retirada total da tireoide, e nova biopsia. Passei por 4 médicos diferentes a procura de respostas que pudesse acalmar meu coração, ando aflita, chorosa, com medo… na verdade em panico, nunca tomei anestesia geral, tenho medo de não voltar da anestesia, tenho medo do resultado da biopsia… Procuro o tempo todo,respostas que possa me acalmar, ouvir a voz de DEUS, me dizendo que vai ficar tudo bem. Terminei todos os exames pre operatórios, e a cirurgia deve ser agendada para os próximos dias, e até lá clamo a DEUS que tudo de certo na cirurgia e o resultado da Biopsia final seja BENIGNO, para honra e gloria do Senhor!! Peço, se puder Betty, orações para mim!! Tenho 35 anos e dois filhos lindos, 1 menino com 13 anos e 1 menina com 6 anos, eles são a razão da minha vida, moro com minha mãe, já idosa, de quem cuido com muito carinho e amo sem medidas, tenho um marido maravilhoso, que esta comigo em todos os momentos, me dando força e na certeza que tudo vai dar certo!!

  2. betty disse:

    Respondi via e-mail, Bruna!

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