O Sofrimento Faz Bem?

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Quem “bloga”, também lê blogs. E clica nos links daqueles blogs quando o assunto lhe interessa. E deste link, às vezes, acaba indo para outro link. Como resultado, por um caminho que não me lembro qual foi, entrei no blog de uma jovem mulher chamada Heather, inteiramente desconhecida, logo quando ela descobriu que tem um tumor maligno na cabeça. Isto já faz um mês e, de vez em quando, tenho lido o seu compartilhar do que sente (ela tem três filhos pequenos, um dos quais com uma doença degenerativa) e da sua esperança em Deus. Já entrei no “marcar como favorito” do meu programa de Internet para que possa ter acesso instantâneo quando quiser. Ontem foi o dia da cirurgia, na Mayo Clinic em Rochester, no outro lado do país em que mora. Lembrei-me e orei por ela várias vezes durante o dia.

Olhei o site agora e vi uma postagem do marido dela, dizendo que havia sido tirado um tumor do comprimento de uma nota de um dólar mas que ela estava mexendo braços e pernas e acenando com a cabeça em resposta a perguntas, a caminho da UTI. Ele concluiu com uma citação do primeiro capítulo de Tiago, relacionado com o sofrimento, dizendo que estas palavras ficavam vindo à sua mente enquanto sentava com seu sogro esperando o término da cirurgia. Estava numa versão moderna, que muito me tocou.

A leitura da passagem me fez lembrar da entrevista que me incomodou ao lê-la no início da semana, na VEJA (2 de maio de 2007). O entrevistado é um psiquiatra de renome, com opiniões bem definidas, e no artigo ele demonstra ser promotor de medicamentos antidepressivos até para os “normais”. A entrevistadora fez algumas perguntas bem perspicazes, do tipo que os cristãos também devem fazer. A que se destaca é a seguinte: “Experimentar dificuldades emocionais não é fundamental para o crescimento pessoal de cada um, para o processo de autoconhecimento?” A resposta começou assim—Quem pode atestar que o sofrimento faz bem? E ele continuou…

E nós, crentes? Como é que ficamos com uma pergunta desafiadora deste tipo? O que fazemos com o que Deus nos ensina através de Tiago e de tantas outras passagens? Minha sogra já me avisou—não quero que me encham de remédios se alguém da nossa família morrer. Quero estar com pleno domínio dos meus sentidos… E eu disse a mesma coisa de volta.

Com isto, não estamos negando a possibilidade de tomar algo para dormir quando o corpo insiste em recusar-se a cooperar… Ou para dor se a cabeça estiver latejando… Ou até a possível necessidade de alguns, com sérios distúrbios crônicos, de serem medicados e aliviados (tanto eles quanto seus familiares). Mas, na situação referida por minha sogra, não queremos estar ausentes—incapazes de lembrar depois aquilo que foi feito, dito e compartilhado… Impossibilitados de procurar, sentir ou transmitir o consolo divino e de testemunhar da nossa fé…

Gostei muito do que entendi da paráfrase bíblica usada pelo marido da jovem acima. Alguns fatos da nossa vida me fazem atenta à possível necessidade de compreender e aplicar passagens semelhantes num futuro não muito distante, em situações bem mais agudas que aquela que estamos passando agora com o cancelamento do casamento da nossa filha.

Estamos, de fato, num período de bonança se comparado às angústias e tragédias que tantas pessoas passam neste mundo onde somos afligidos pelas conseqüências do pecado. Um mundo onde o inimigo de Deus tenta derrubar ou enfraquecer os seus filhos e fazer com que eles não possam testemunhar. Um mundo que se esforça para enaltecer pessoas que não conhecem a Deus para nos convencer que somente uma pessoa louca não se esconde do sofrimento… Um mundo onde nos dizem que o melhor para nós é um comprimido que nos leva a um limbo ilusório em que nunca poderemos consolar os outros com o conforto que recebemos de Deus (2 Coríntios 1) exceto se mandá-los ao mesmo médico que nos receitou o “conforto químico”.

Vou compartilhar o que Tiago fala—adaptando a versão usada no texto do blog pois ela não existe no português. Há muito tempo atrás, aprendi a pegar textos bíblicos e reescrevê-los nas minhas próprias palavras. Outras vezes, adapto as passagens à minha própria realidade, personalizando a mensagem, substituindo os pronomes por “eu” e “mim”, colocando “pessoas” em vez de que “homens”, usando termos mais coloquiais… A atividade em si já é benéfica. Se quiser, leia as palavras novamente no texto da versão que você preferir.

Devo considerar isto um verdadeiro presente, quando provas e desafios me vierem de todos os lados. Eu sei que, sob pressão, minha vida de fé é forçada a aparecer e mostrar sua verdadeira aparência. Portanto, não devo tentar fugir de algo prematuramente. Deixarei que aquilo faça o seu trabalho para que eu me torne madura e bem-resolvida, sem qualquer deficiência.

Se eu não souber o que devo fazer, orarei para o Pai. Ele gosta de ajudar. Eu receberei a sua ajuda e não vou sentir que Ele está sendo condescendente comigo só porque eu precisei pedir. Pedirei com ousadia, crendo, sem pensar duas vezes. As pessoas que oram duvidando são como ondas jogadas pelo mar. Nem devo pensar que receberei algo do Mestre deste jeito, boiando no mar, procurando manter todas as opções em aberto.

Quando aquele que estiver no fundo do poço se recuperar, deve se alegrar! E quando o rico arrogante cair na insignificância, sabemos que é porque a prosperidade é tão passageira quanto uma flor do campo. Portanto, nunca devo contar com ela. Eu sei que tão logo que o sol apareça com seu calor ardente, a flor murchará. As suas pétalas secarão e, antes do que se espera, daquela aparência formosa sobrará apenas o caule. Pois é, aí temos um quadro da “vida de prosperidade”. Enquanto todo mundo está boquiaberto de admiração, aquilo se desfaz em nada.

Qualquer pessoa que se dá de cara com uma prova difícil e consegue agüentar é abençoada. Para mim, se eu fielmente demonstrar meu amor por Deus, o prêmio será vida e mais vida! (Tiago 1:2-12)

Agora me diga, à luz do início desta passagem e das de Romanos 5.3-5, 2 Corintios 12.10, 1 Pedro 1.6-7 e 4.12-13, como você responderia àquela pergunta do psiquiatra da entrevista? Quem pode atestar que o sofrimento faz bem?

Abraços fraternos,
Betty

3 Comentários a “O Sofrimento Faz Bem?”

  1. Suenia disse:

    Que bela reflexão, Betty…
    Como admiro sua fé e coragem e ao mesmo tempo me sinto desafiada por seus textos, que brotam de um coração que sabe viver na dependência da soberania de Deus.
    Que jamais nos esqueçamos de sempre fazer de nossa própria vida o verdadeiro alvo da Palavra de Deus para podermos resistir ao dia mal e depois de termos vencido tudo permanecer inabaláveis.
    Você e toda a sua família continuam presentes em minhas orações.
    Grande beijo,
    Suenia

  2. Mical disse:

    Como é desafiador esse texto de Tiago, e nesses ultimos tempos temos a oportunidade de vivermos essa experiancia intensamente.
    Então paro, analiso o meu viver e digo a mim mesma:
    – Voce precisa melhorar!!
    Eu mesmo respondo:
    -Que o Senhor me ajude.
    – Ele ja está me ajudando quando me dá a oportunidade de ler essa sua cronica e refletir sobre o meu viver.
    Um grande abraço amiga.
    🙂

  3. Sirlanda disse:

    Nossa……ufa!!! EU realmente preciso rever os meu conseitoS. DEUS é lindo e ti usou pra falar comigo.Meu coração trasborda de desejo de ter uma fé assim: que dá graças em qualquer situação, que tenha esse amor por DEUS.
    Obrigada por essas crônicas, realmente tu és boca de DEUS aqui na terra.

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