Dia das Mães – 2009 (2)

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Da última vez escrevi como mãe—do lado recebedor do Dia das Mães. Mas também sou filha e como tal saí, como todo mundo, para procurar presentes para minha sogra-mãe. Não é difícil agradar a Mamãe. Ela consegue apreciar o mero fato de um presente ter sido adquirido para ela—fica contente por ser lembrada, examina a embalagem e seus enfeites (tirando a fita durex com todo o cuidado, o papel sem rasgar e depois dobrando e guardando tudo cuidadosamente), preocupa-se que a gente “gastou dinheiro à toa”.

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Depois, ela vê beleza nos mínimos detalhes de cada presente. Entretanto, muito daquilo que recebe acaba sendo guardado numa gaveta por ser “bonito demais para usar” ou porque ela acha que, um dia, pode precisar dar um presente a alguém, e ela só gosta de dar aquilo que ela mesma acha bonito. Se puder dar sem gastar dinheiro, e sem incomodar ninguém para fazer a compra, melhor ainda… E, assim, se não forçamos o uso, os presentes que recebe ficam “entesourados” para abençoar outras pessoas.

Não é fácil presenteá-la com algo que não acabe escondido naquelas gavetas. Ela tem 85 anos. Não é mais dona de casa. Tem roupas, sapatos, bolsas, roupas de cama e banho… Dar-lhe perfumes, sabonetes e bijuterias, nem pensar, porque irão direto para o estoque estratégico de presentes. Já compramos todos os materiais possíveis para seu hobby de fazer cartões recortados—e a maioria dos papeis coloridos permanece guardada para trabalhos especiais futuros, pois são especiais demais para coisas mais comuns.

Já são muitos anos que procuramos mimá-la, indo de encontro às suas raramente expressas vontades e desejos—meu marido e eu, os netos, os parentes e os amigos. Também procuram comprar algumas coisinhas para ela as moças que ajudam na nossa casa (e não é que tem vezes que elas acertam mais do que a gente?!)

E agora? O que coloquei na cabeça desta vez era satisfazer duas coisas. Seu horror a frio. E a sua aguçada curiosidade. Portanto, para esquentá-la no inverno que se aproxima, comprei um suéter bem macio (ela ama tecidos macios).

Depois, saí com meu marido para encontrar dois tipos de livros. Infelizmente, não os encontramos na livraria para qual fomos meio correndo num shopping à noite. Assim, fui sozinha para a Livraria Cultura na Avenida Paulista para procurar mais.

Mamãe não agüenta mais ler livros inteiros. A sua vista, que está em tratamento, não permite. Mas ela sempre quer saber mais. As perguntas brotam na sua mente continuamente. Na área da Bíblia, ela tem os recursos que precisa. Encontro-a, muitas vezes, na sua escrivaninha, procurando um texto ou textos para encaixar em algo que está pensando ou escrevendo. Entretanto, deixamos muitos livros antigos para trás quando eles se mudaram de Recife para morarmos juntos, aqui em São Paulo, inclusive a Enciclopédia (as coleções de dicionários vieram todos e tanto Papai quanto Mamãe gostam de pesquisar o significado das palavras para determinar qual melhor descreve aquilo que querem dizer).

O primeiro livro que eu procurava era específico. Havia visto uma resenha dele na VEJA – São Paulo e anotado os dados para procurar, e ver se serviria para Mamãe. Já “bloguei” no passado (ver aqui) sobre como ela fica observando e admirando a coloração e floração das árvores ao longo dos caminhos pelos quais passamos de carro. Vejo que ela fica frustrada porque não sabe os nomes delas—o que não era o caso em Recife onde ela conhecia quase todas. Dei o titulo (Árvore Cidade São Paulo—Editora Uiti) para uma vendedora e ela me encaminhou para o setor certo. É um livro muito lindo, dando os nomes e bastante detalhes em meio a muitas fotos delas nas ruas e parques da cidade. Apenas achei poucas as árvores retratadas—são apenas 18. Mas comprei-o. Já vai dar para iniciar a sua familiarização e ela poderá começar por identificar o enorme pé que fica bem à frente do nosso apartamento.

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Depois fui atrás de matar a sua curiosidade numa outra área. Entre os livros de Recife, estava uma coleção (já bem velha) de volumes sobre plantas, frutas e verduras e seu valor nutricional e medicinal. Na hora, Mamãe não disse que gostaria de ficar com eles (eles escolheram muitos outros—trouxemos várias centenas de livros), mas depois percebi que ela sente falta deles. Muitas vezes, no almoço, ela saboreia uma verdura ou legume, ou uma fruta diferente, e diz—Gostaria muito de saber para que serve isto.

Já procurei na Internet, mas não encontrei nenhum texto que era exatamente o que queria. Agora, na loja, tentei explicar para os vendedores aquilo que tinha em mente. Primeiro me mandaram para o setor de Gastronomia onde examinei bem uns cem livros. Eu mesma tenho uma enciclopédia de cozinha em inglês que explica tudo (origem, história, aparência, valor nutritivo, como escolher, guardar, cozinhar, fritar…), mas não encontrei nada parecido.

O atendente, então, me enviou para o setor de Nutrição. Havia dezenas de livros interessantes, muitos relacionados com misticismo, mas os únicos que tinham algo parecido com o conteúdo eram científicos e insossos. Não serviam. Mas ainda havia mais um setor num outro andar—o de Dietas. Assim percorri a Dieta de Atkins, da sopa, do sangue, dos pontos e muitos outros. Não posso dizer que vi tudo, mas olhei muito. Finalmente encontrei um sobre colesterol com umas cinqüenta páginas dedicadas aos dados e o valor nutritivo de alimentos redutores do colesterol. Já que muitos legumes, verduras e frutas se encaixam nesta categoria, comprei o livro. Gostaria de ter encontrado algo com fotos coloridas, mais dirigido, mais especifico—mas sei que ela agora vai poder descobrir sozinha “para que servem” espinafre, brócolis, alho, cebola, etc. Ainda assim, não está completo—faltam alface, couve flor, repolho… Se algum leitor souber de um volume mais bonito e especifico, favor me indicar.

Creio que o meu tempo na livraria acabou sendo mais um presente para mim do que para ela. Como é gostoso ter tempo livre para estar no paraíso dos escritos, da literatura, da informação, da fotografia, do conhecimento, da sabedoria…. Com os livros escolhidos, fiquei lá mais uma hora e meia, bem folgadamente examinando os best-sellers em várias áreas. Depois, perguntei pelo DVD de Sabrina, na versão com Audrey Hepburn. Não tinham no estoque, mas a moça se prontificou para fazer o pedido. Por três reais a mais, será entreguei na minha casa daqui a alguns dias. A versão mais recente é um dos meus filmes favoritos—sou muito romântica—e deu vontade ver a original. Creio que Mamãe vai gostar de (re)ver comigo. Finalmente, comprei o DVD de Marley e Eu (já temos o livro) e a moça no caixa me surpreendeu dando-me um caneco do mesmo filme/livro, de brinde.

Agora vou sentar e embrulhar tudo e espero que, junto com o que a nossa filha irá lhe dar, Mamãe se sinta bem amada.

Abs, Betty

Um Comentário a “Dia das Mães – 2009 (2)”

  1. Rayra Maia disse:

    Olá Betty!!!
    Descobri seu blog faz ums 20 dias.
    Gostei bastante, parabéns!!!
    Beijão

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