Companheirismo no Casamento – 1

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Solidão: Como Preencher o Vazio

Neste mês de abril, foi minha vez de falar no encontro do grupo de esposas de seminaristas do qual participo como coordenadora. Chama-se “Conte Comigo”, baseado no livro homônimo de Wanda de Assumpção. É uma tentativa pioneira, e ainda bastante limitada, para providenciar um ponto de encontro e ser uma fonte de fortalecimento e encorajamento para essas moças que, um dia, serão esposas de pastores. Entre os tópicos considerados para o semestre, eu havia escolhido “Companheirismo no Casamento”.

Era um dia de muita chuva, do tipo em que não se sai sem ter um compromisso ou sem ser bem compromissado. Do tipo em que a gente apenas não falta quando a ausência vai ser conspícua. Assim, vieram apenas seis moças corajosas (normalmente vêm umas doze esposas/noivas) e quatro coordenadoras/cooperadoras destemidas. Sentamos num círculo, falei o que havia preparado e conversamos por um bom tempo. Agora trabalhei, inverti, expandi e dividi aquilo que preparei para elas, para postar neste blog. O post de hoje é a introdução.

No encontro do mês anterior, outra coordenadora falou sobre Os Desafios e Abnegações de uma Esposa de Pastor. Depois da palestra, várias moças comentaram e compartilharam dificuldades que enfrentam sem nem serem esposas de pastores ainda, apenas como esposas de seminaristas. Algumas dessas dificuldades estavam relacionadas com a solidão.

Eu fiquei pensando bastante sobre isto, especialmente quando percebi que o assunto se encaixa no meu tópico. Afinal, “companheirismo” é um fator que deve afetar a “solidão”. Refleti sobre como pode ser preenchido o vazio que todos os seres humanos sentem—alguns sempre e, outros, ocasionalmente. É um vazio que Deus começa a preencher quando somos adotados por Ele (quando cremos que Ele enviou seu Filho para morrer em nosso lugar e que Ele, portanto, perdoou nossos pecados). Naquele momento é formado um relacionamento extremamente precioso e especial—o de Pai-filho, ou filha.

Entretanto, creio que, muitas vezes, abrigamos um conceito errôneo sobre como Deus preenche aquele vazio no nosso dia-a-dia, quando enfrentamos dificuldades e contratempos, desentendimentos, ou quando somos mal-tratadas. Temos a noção que, quando estamos com problemas, e sentindo-nos sozinhos, precisamos apenas conversar com Deus em oração e ler a Bíblia. Então, automaticamente, se estivermos caminhando bem, espiritualmente, devemos conseguir nos sentir completamente em paz, confortados e satisfeitos. Devemos ficar bem. Aquele vazio no nosso coração deve acabar. Até sem conversarmos com mais ninguém.

Eu pensava isto. Às vezes, censurava pessoas que não conseguiam ser felizes com o conselho de simplesmente entregar tudo a Deus em oração e pronto. Também condenava a mim mesma por ficar abatida ou desencorajada apesar de recorrer a estas duas fontes de bênção.

Não me entenda mal. De fato, precisamos ter esta conexão com Deus. Devemos perceber a Sua grandeza e seu amor – em tudo que Ele é e faz – e aproximar-nos dele mais e mais. Quando fazemos isto, Ele nos permite momentos de intenso deleite e paz que nos fortalecem e aperfeiçoam.

Deus é a pessoa a quem corremos quando estamos alegres, comovidos ou gratos e o Pai a quem recorremos quando precisamos de ajuda ou consolo. Como os salmistas, temos a prerrogativa de filhos de compartilhar com Ele nossas alegrias e tristezas, louvando e lamentando, agradecendo e implorando, aprendendo e confessando, conforme aquilo que estiver acontecendo em nossas vidas.

É um privilégio poder pensar e planejar na presença dele.

É uma bênção deixar o Espírito Santo nos ensinar e guiar através da auto-revelação divina no livro que chamamos de Bíblia.

Mas, de certa forma, não é sempre a interação com a pessoa de Deus que acaba com o vazio, com a solidão que sentimos. A razão por trás disto é que Deus nos fez e criou de maneira que precisamos de gente – de outras pessoas. No próximo post pretendo basear esta tese no relato da criação e ampliar o entrelaçamento com o companheirismo no casamento, mas, primeiro, darei um exemplo do Novo Testamento para ilustrar o que quero dizer.

Estou pensando no apóstolo Paulo. Creio que todos concordam comigo que existem abundantes indicações de que ele orava e estudava a Bíblia como ninguém. Além de ter sido canal de Deus para registrar nova revelação divina, ele conhecia tanto o Antigo Testamento, que, quando escrevia suas cartas, os textos e ensinamentos pareciam lhe sair pelos poros. Entretanto, vejam o que ele escreveu em 2 Coríntios 7.5-7:

Porque, chegando nós à Macedônia, nenhum alívio tivemos; pelo contrário, em tudo fomos atribulados: lutas por fora, temores por dentro. Porém Deus, que conforta os abatidos, nos consolou com a chegada de Tito; e não somente com a sua chegada, mas também pelo conforto que recebeu de vós, referindo-nos a vossa saudade, o vosso pranto, o vosso zelo por mim, aumentando, assim, meu regozijo.

Tenho certeza que Paulo havia conversado com Deus em oração e compartilhado suas lutas e temores. Não duvido que ele também revolvia, na sua mente, as promessas de Deus nas Escrituras, muitas das quais havia decorado. Mas aqui ele escreve que, desta vez, não encontrava alívio. Continuava atribulado e abatido.

Então vem uma declaração interessante. E o que aprendemos é que Deus também lança mão de um terceiro meio para interagir conosco e preencher o vazio que sentimos. Ele usa seres humanosPessoas também são seus instrumentos para ajudar e encorajar. Vemos aqui claramente que Paulo se consolou com a chegada de Tito. Ele afirma que Deus possibilitou a vinda desse amigo e companheiro com o propósito específico de confortá-lo. Deus foi a fonte do consolo, mas enviou Tito como o meio. O conforto ainda veio acrescido por regozijo quando Paulo soube que as pessoas de Corinto estavam intensamente preocupadas com o bem-estar dele.

Paulo fala em termos relacionais, alegremente compartilhando, sem acanhamento ou vergonha, que seu Pai celestial sabia que ele precisava ver um rosto querido e ouvir uma voz familiar. E Deus não parou aí. Permitiu que Paulo confirmasse novamente que havia pessoas que o amavam—que sentiam saudades dele, que estavam chorando ao saber do seu sofrimento, que estavam zelando por ele em maneiras que ele não relata (por certo, orando e, provavelmente, enviando recados, cartas e recursos financeiros e materiais).

Podemos dar outros exemplos bíblicos de como Deus usa pessoas como canais das suas bênçãos, preenchendo as necessidades e aliviando a solidão dos seus semelhantes. De fato, o que os teólogos chamam de “graça comum” alcança todos os seres humanos e eles são e têm amigos e parentes.  Entretanto, dentro da família formada por seus filhos adotivos, Deus planejou e promove uma fraternidade toda especial. Logo que Ele se torna nosso Pai, ele nos presenteia, acrescentando à nossa família natural um monte de irmãos e irmãs. A Bíblia está repleta de instruções sobre o dever e a maneira dos filhos de Deus demonstrarem o seu amor fraternal.

Mas preciso voltar ao tema da minha palestra—Companheirismo no Casamento—e o pensamento que me veio primeiro, baseado em Gênesis 2.18. Deus permitindo, falaremos disso daqui a alguns dias. Enquanto isso vamos todos nos esforçar para procurar e oferecer a comunhão que deve existir numa família, começando pela nossa família natural e continuando na família da fé.

Abs, Betty

Textos referidos acima:
Penúltimo Parágrafo
Romanos 12.10 Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros…. (continua até versículo 21).
Efésios 2.19 Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus.
1 Pedro 3.8 … Sede todos de igual ânimo, compadecidos, fraternalmente amigos...
2 Pedro 1. 5, 7 … Reunindo toda vossa diligência, associai com a vossa fé … a fraternidade, e com a fraternidade, o amor.
1 João 2.10 Aquele que ama a seu irmão permanece na luz e nele não há nenhum tropeço.
1 João 3.10 … Não procede de Deus… aquele que não ama a seu irmão.

Último Parágrafo
1 Timóteo 5.8 Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos de sua própria casa, tem negado a fé, e é pior do que o descrente.
Gálatas 6.10 Enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé.

2 Comentários a “Companheirismo no Casamento – 1”

  1. Ethel disse:

    Graça e paz!

    Parabenizo e fico muito feliz pela iniciativa do “Conte Comigo”. Que o Senhor abençoe e faça frutificar este serviço para glória do Senhor.
    Alegro-me porque sou esposa de pastor e tenho compartilhado com outras esposas algumas mensagens, orações e encontros aqui em nosso Presbitério. Criei um blog voltado para esposas de pastores e, como as irmãs têm sido abençoadas e encontrado apoio e encorajamento., assim como eu, pois primeiramente as mensagens são para o meu coração.
    Abraços fraternais
    Ethel

  2. Lécia disse:

    Quero parabenizar pelo lindo projeto esse de apoiar as esposas de seminaristas. Conheci meu esposo no seminário e como esposa de pastor sei como são grandes os desafios, porém é gratificante quando ao nosso lado se encontra um homem de Deus, sensível ao ministério e ao lar.
    Que o Senhor a fortaleça, que este ministério venha crescer mais e mais.

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