A Bênção que veio através de uma Secretária Incompetente

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Alguns meses atrás, no post Homenagem a um Cobrador-de-Ônibus Anônimo, refleti sobre a maneira em que a atitude e conduta de um funcionário pode grandemente afetar a percepção do cliente do serviço ou produto oferecido através dele. Naquela ocasião, contrastei a boa vontade e alegria de um cobrador de ônibus, com a má-vontade, antipatia e incompetência de uma vendedora de calças jeans.

Desta vez, pretendo compartilhar como uma secretária muito “chata” engatilhou o processo que acabou nos conduzindo a uma mudança de cirurgião, no desenrolar das minhas preparações para operar a tireóide.

Como já contei no post anterior, a minha “saga” atual começou com o clínico geral que cuida dos meus sogros e, eventualmente, de mim (através do nosso convênio médico). Este doutor indicou um colega que atende na mesma clínica e leu o laudo da ultrassonografia para ele, por telefone, na minha presença. Aquele “cirurgião de cabeça e pescoço” imediatamente disse que eu precisaria fazer a remoção total. Assim, saí e marquei uma consulta com a secretária dos dois médicos para a semana seguinte. Até então eu já a conhecia, mas há pouco tempo. Havia lidado mais com a sua precursora e com a moça que atende pela manhã. Ela foi educada, mas distante.

No dia seguinte, peguei o “orientador médico” do convênio, encontrei a lista dos endocrinologistas credenciados e comecei a ligar. Afinal, eu estava com uma nítida impressão que cirurgiões não tendem a passar muito tempo pesquisando outras opções (quando penso neles,  já os vejo com uma faca na mão) e aquele desconhecido não parecia ser exceção. Temia estar pulando uma etapa muito importante e resolvi consultar um especialista na área de glândulas para atestar que a cirurgia realmente seria necessária. Não foi fácil achar alguém perto da minha residência que me atendesse logo. Todos estavam com a agenda lotada (meu marido sempre diz que os médicos de convênio, que marcam consultas 40 dias à frente, pegam os pacientes quase mortos, ou já curados por si mesmos). Mas, finalmente, consegui um “encaixe” com uma doutora no meu bairro no prazo de dez dias.

No dia da primeira consulta com aquele médico cirurgião, a sua secretária me ligou no celular umas duas horas antes da hora marcada para avisar que ele não viria por causa do trânsito (era “o dia da grande chuva em São Paulo”, especialmente na zona sul). Com voz indiferente (sem pedir desculpas), remarcou para uma semana depois. (Ele só atende três vezes por semana, de terça a quinta, por pequenos períodos no fim do dia). Quando estranhei, achando que uma semana seria muito tempo, ela insistiu que aquele seria o primeiro horário livre.

Era óbvio para mim que as pessoas remarcadas deveriam ter precedência para serem encaixadas nos dias intermediários, mas tudo bem. Eu não era paciente dele ainda e, já que era cirurgião de cabeça, poderiam existir pessoas com problemas bem mais sérios do que os meus, a serem atendidos. E, apesar de lamentar ter cancelado outro compromisso em vão para ir naquele doutor, naquela hora, até consegui considerar o adiamento providencial. Em primeiro lugar, porque evitei sair no enorme toró, que logo depois começou a cair também no meu bairro e, ainda, porque eu já teria a oportunidade de ter consultado a especialista em endocrinologia, antes da conversa com o cirurgião. Felizmente, a médica não faltou na hora marcada…. Infelizmente, entretanto, ela confirmou o diagnóstico que ele havia dado por telefone – eu teria de extrair por completo a tireóide ….

Na semana seguinte, o cirurgião me atendeu. Olhou os exames que já havia feito e foi atencioso.  Disse-me tudo que já descrevi no blog anterior e pediu uns outros exames (a maioria relacionada ao coração) e mandou que os levasse ao clínico geral (que também é cardiologista) para ele me dar uma autorização por escrito, para fazer a cirurgia, antes do retorno ao seu consultório.

Saí da consulta, meio desanimada, e fui conversar com a secretária para marcar tanto com o cardiologista quanto com ele novamente (eles compartilham a mesma funcionária). Na minha cabeça, o ideal seria marcar com os dois para o mesmo dia, na semana seguinte, pois existe uma tarde em que eles atendem lá ao mesmo tempo. Iria no clínico mais cedo, pegaria a autorização, esperaria e entregaria esta, juntamente com os resultados dos exames, ao outro. Marcar com o clínico foi fácil. Mas não com o cirurgião. Apesar da minha cara de decepção, a secretária friamente recusou-se a me dar qualquer esperança de encaixe. Não tinha lugar para mim na agenda do cirurgião naquele dia, nem naquela semana. Teria que voltar novamente oito dias depois. Não gostei, mas fiquei quieta, resignada. Tento sempre procurar o lado bom—pelo menos teria mais chance de fazer todos os exames antes de revê-lo.

Fiz os exames, levei-os ao clínico e peguei a autorização. Acertei com meu marido para estar lá comigo no dia marcado com o cirurgião e ele mudou alguns compromissos para poder fazer isso. Viríamos separadamente—ele do trabalho e eu de casa. Cheguei primeiro, soube que o médico iria atrasar-se um bom tempo e, vendo que havia três pessoas na minha frente, liguei para avisar meu marido. Assim ele pode tratar de alguns assuntos a mais antes de vir e ficar preso no trânsito com mais tranqüilidade.

Enquanto isto, fiquei observando a conduta daquela secretária, percebendo a sua frieza no trato com os pacientes. É uma morena bonita, tanto de corpo quanto de rosto, com olhos surpreendentemente claros. Lembrei-me daquilo que já havia pensado nas consultas anteriores aos dois médicos. Que, apesar da beleza daqueles olhos, estes não transmitem nenhum calor humano, até quando ela se esforça para atender com um sorriso.

Até então, havia me convencido que era a coloração inusitada (aquela cor de cinza transmitia frieza para mim) que poderia estar me dando uma impressão falsa – afinal, quem pode julgar o caráter pela cor dos olhos? Mas, agora, constatei que a minha conclusão, mesmo sem nada a ver com a cor das pupilas, não era tão equivocada assim. Quando ela condescende contemplar alguém, o olhar é fixo, sem piscar—prendendo e digerindo a imagem sem reação alguma. Parece ver a silhueta, a forma, sem enxergar o individuo dentro dela. Estando ao telefone, quando alguém chega para um ou outro médico, ela simplesmente não faz contato visual com aquela pessoa—deixando que fique plantada em pé diante dela até terminar a conversa—às vezes, por vários minutos. Por outro lado, quando está atendendo uma pessoa presencialmente, ela não atende o telefone. Cansamos de ouvi-lo chamando, chamando, chamando, até disparar.

De vez em quando, sumia no escritório vazio do médico, supostamente para cuidar de alguma documentação, deixando tanto o telefone tocando quanto novos pacientes esperando. Nada de atender a ligação de dentro do consultório ou de colocar a cabeça para fora, de vez em quando, para verificar se alguém estava esperando. Não parecia ligar a mínima para o fato de que as pessoas que lhe cercavam, e que telefonavam, estavam lidando com doenças e dores, com desilusões e desapontamentos.

Mais ou menos uns 90 minutos depois da minha hora marcada, ela atendeu a uma ligação no seu celular e depois anunciou, laconicamente—o doutor não pode vir. Teremos que remarcar para amanhã.

Houve consternação geral entre os pacientes que esperavam. Enquanto liguei para meu marido para avisar que não precisava mais subir (naquele momento, ele se encontrava a um quarteirão do prédio), ouvia-se a balbúrdia dos pacientes presentes expressando seu desapontamento e irritação. Uma morava na outra ponta da cidade, outro iria viajar, ainda outro não poderia vir de maneira alguma no dia seguinte. A que atravessara a cidade disse—Você garante que ele vem amanhã?! A moça olhou para ela fixamente como se aquela pergunta fosse extremamente tola e não falou nada. Apenas colocou a caneta em cima da agenda e esperou.

Fiquei pensando—de certo modo a secretária tem razão, pois ela não tem controle sobre os movimentos do chefe. Por outro lado, apesar da pergunta ser mal-colocada, esta reflete uma preocupação legítima e uma secretária bem-treinada deveria saber relevar e esforçar-se para amenizar a frustração que acompanha o desapontamento dos clientes quanto ao seu patrão. Uma palavra de entendimento, um gesto de compreensão, um olhar de solidariedade, teria feito uma grande diferença, naquela situação de desconforto.

Fiquei quieta no meu canto, esperei todo mundo sair e re-marquei para o dia seguinte, como haviam feito vários outros. Mas, mais tarde, falando com meu marido, soube que ele não poderia estar lá comigo. Resolvemos que, em vez de ir sozinha, eu tentaria conversar com o médico por telefone para já começar o processo da documentação para internação e remarcar a nossa visita para terça ou quarta da próxima semana.

No dia seguinte, passei um bom tempo ligando. O telefone chamava até cair na caixa de mensagens. Lembrando-me daquilo que havia presenciado na sala de espera, persisti em re-discar e, finalmente, ela atendeu. Expliquei que eu queria vir acompanhado por meu marido para aquela consulta e que ele apenas poderia ir na terça ou na quarta da próxima semana. Pedi para o doutor ligar para mim na hora da minha consulta e para ela remarcar. Só depois notei que ela não havia me dito a hora da nova consulta.

Mais tarde, já bem de noite, a moça discou para mim e transferiu a ligação para o doutor. Ele concordou em me ver outro dia, com meu marido, e sugeriu a data de segunda-feira, dia 27 de abril, para a cirurgia, comprometendo-se a já reservar o hospital e organizar a equipe. Passou-me para a secretária novamente para marcar a volta. Esta então me disse que não havia nenhuma possibilidade de ele me encaixar na terça ou na quarta. Teria que ser na quinta. Respondi que naquele dia meu marido não poderia ir. Tentei argumentar que já havia falado para ela que precisava de ser na terça ou na quarta. E que a terça da semana subsequente seria um feriado—jogando a seguinte oportunidade para bem próxima à cirurgia.

Ela permaneceu inflexível. Apesar de estar com o médico bem ao lado—o que poderia facilmente ter encaixado uma pessoa que já estava sendo encaminhando para cirurgia (que precisaria ainda de ir atrás de guia, etc.), não fez esforço algum para consultá-lo ou para me acomodar ou apaziguar. Sendo crente, com a orientação bíblica de “irai-vos e não pequeis” bem presente na minha mente, mordi a língua e marquei para a quinta, mas estava muito triste.

Mais tarde, quando liguei para meu marido para compartilhar que não havia conseguido a volta nos dias que ele havia sugerido, soube que ele realmente não poderia ir na quinta pois nem estaria aqui—estaria com pessoas do Brasil inteiro numa reunião em que ele seria participante ativo. De repente, as lágrimas começaram a pingar e minha voz ficou toda embargada. Apesar de não soluçar ou falar nada, ele sentiu a minha tristeza e perguntou, surpreso—Por que você está chorando?
Respondi—Porque você não pode ir! Aí eu desabei mesmo, sentindo-me ridícula.

De fato, não era apenas isto que me preocupava. Já estava fragilizada com as coisas que descrevi no meu último post. Porém, até aquele dia, eu não havia percebido quão importante era para mim ter a participação do meu marido na decisão de fazer a cirurgia com aquele médico. Realmente, apesar de ter uma capacidade de raciocínio relativamente bem desenvolvida, como mulher emotiva funciono muito na base de instintos e sentimentos que, frequentemente, tenho dificuldade em distinguir e expressar. Normalmente, nem me preocupo com isto, porque prossigo de uma reação para outra, adaptando-me à base dos meus deveres, conforme aquilo que ocorre ou que precisa ser feito.

Mas, agora, identifiquei que havia uma profunda incerteza dentro de mim sobre o caminho que estávamos percorrendo. E que era por esta razão que eu estava ansiando para incluir a perspectiva e a participação presencial do meu marido naquela interação e decisão. Queria que ele visse o médico, que conversasse com ele, que fizesse perguntas; que ele completasse a minha própria avaliação com a perspicácia pela qual é conhecido. Dormi mal, apesar do braço protetor que ele colocou ao meu redor, tentando transmitir o seu amor ainda que fosse impossível fazer o que eu tanto queria. Estava abalado porque percebia como aquilo era importante para mim, mas não tinha como mudar a sua programação.

No dia seguinte, quinta-feira da semana passada, sentei na minha cama, peguei meu livro devocional (o Pão Diário) e minha Bíblia e comecei a meditar e pensar na presença de Deus. Estou contando este detalhe porque é essencial à minha história. Entretanto, ao mesmo tempo, devo confessar que ainda não aprendi a lição totalmente e que, não poucas vezes, tenho deixado esta prática maravilhosa e benéfica de lado, no corre-corre do dia-a-dia. Mas preciso compartilhar como aquele tempo matutino que separei para refletir, sem sonolência nem interferências, foi importante.

Aqui vai um aparte. Quase todos os evangélicos acreditam que Deus cuida deles. Nem todos param para pensar no escopo e no detalhamento destes cuidados. Mas eu creio na teologia da Reforma – na plena soberania de Deus. Como “reformada”, creio que meu Pai celestial planejou e ordenou tudo que acontece. É algo que me traz muito conforto após o fato, pois posso me consolar e encorajar por saber que todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus e que o céu me espera no fim. Mas antes é mais difícil porque tenho que mesclar a minha responsabilidade de utilizar a inteligência e os meios que Ele me deu para decidir e dirigir aquilo que posso controlar, com a minha confiança na sabedoria e poder divino com respeito às coisas sobre as quais não tenho controle.

Ocorre que nós temos um plano hospitalar que vale para os melhores hospitais do país, que já pagamos há mais de trinta anos. É só assistir ao noticiário e prestar atenção aos centros onde são internados os políticos, jogadores e artistas do país para saber quais são estes hospitais. Este plano já nos serviu maravilhosamente quase duas dezenas de vezes, se contarmos os nascimentos e as internações dos nossos filhos. Acontece, entretanto, que quando fazemos uma cirurgia, apesar dele realmente cobrir todas as despesas hospitalares de lugares mundialmente reconhecidos, os custos com os médicos e seus assistentes são cobertos apenas em parte. No início da contratação do plano, esta diferença não era grande, mas, através dos anos, a defasagem ficou enorme. Esta opção ainda traz um efeito dominó porque os médicos que operam e atendem nestes hospitais normalmente não trabalham com o convênio médico que temos (através do trabalho do meu marido) e ainda insistem em pedir exames em locais igualmente não-conveniados.  Assim acabamos pagando por consultas e exames também e este ciclo vicioso, num contexto de muitas internações e tratamentos, tem minado as nossas economias.

Dessa forma, nos últimos anos, temos procurado reduzir as despesas migrando mais e mais para os médicos e laboratórios do outro convênio. E eu, sem alarde, resolvi “colocar minha confiança em Deus” e, pela primeira vez, fazer uma cirurgia através dele (depois de “desfrutar” de oito internações no HIAE).

A princípio, isto me parecia relativamente fácil. Afinal, o cirurgião veio indicado por um médico muito simpático, que tem sido uma bênção na vida dos meus sogros através da sua maneira solícita de atender e da grande atenção que presta ao contexto geral dos seus sintomas. E o cirurgião, quando eu finalmente consegui vê-lo, também olhou meus exames e tomou do seu tempo para me explicar várias coisas. Cogitei que ele estava em uma idade “boa”—nem velho demais para estar desatualizado, nem jovem demais para ser inexperiente.

Mas eu pesquisei seu nome na Internet, e encontrei basicamente referências aos locais e órgãos em que trabalha, e um único trabalho escrito feito em conjunto com outros. Pode ser, porém, que ele passa mais tempo operando e cuidando de pacientes do que pesquisando e escrevendo. Entretanto, a sua secretária me informou que ele marca as cirurgias unicamente para as segundas-feiras e quando perguntei se ele opera no pronto socorro do convênio nos outros dias, ela desconversou. Deste jeito, ele não parece estar acumulando muita experiência. E pelo que a secretária deixou escapar para um outro paciente, percebi que sua falta de vir pela segunda vez se devia a um problema administrativo de um outro convênio. Assim comecei a desconfiar que ele manuseava mais as canetas do que os bisturis. Tudo isso não contribuía para minha serenidade.

Desse modo, naquela manhã de sexta-feira, coloquei tudo diante de Deus, tentando descobrir porque estava tão inquieta, para depois resolver o que fazer. Percebi que, fora da indicação de um médico simpático, e de um diploma na parede, eu não havia muito em que basear a competência e habilidade da pessoa a quem pretendia confiar o futuro da minha saúde, voz e traquéia. Avaliei, também, que a minha esperança de incluir meu marido na decisão havia acabado por causa de uma secretária totalmente insensível. E não tinha como conversar com o médico sobre a possibilidade de mudar isto sem passar pela “bruxa”. Parecia-me que logo estaríamos num ponto sem retorno, tão próximo da data da intervenção que seria inviável ou, pelo menos, descortês, mudar de rumo.

Mudar de rumo… Encontrar outro médico… Livrar-me daquela “megera” que servia como intermediária…  Era isto que eu queria! Mas como? Ir para quem? A quem pedir orientação, uma outra indicação? E se achasse, quanto tempo levaria para conseguir uma consulta? Assim pedi a Deus que, se este não fosse o caminho a seguir, outra porta fosse aberta para mim. Mas confesso que eu não acreditava muito na existência desta possibilidade e pensava que precisaria me conformar ao destino já traçado.

Algumas horas mais tarde, precisei ligar para a secretária do meu marido. Não me lembro mais p’ra quê. Ela, contrastando com a assistente já citada, é uma pessoa muito competente e atenciosa—uma benção sem par na vida do meu amado e de muitos outros. Além disto, somos irmãs em Cristo, compartilhando da mesma fé. Ela me perguntou se havia conseguido re-marcar a consulta numa hora em que Solano poderia ir e respondi que não, contando da minha frustração com a secretária.

Lembrando-me que a mãe dela havia feito esta mesma cirurgia em janeiro, indaguei sobre o seu estado e como havia sido. Nunca havia pensado em solicitar os dados do cirurgião porque as duas moram no outro lado da cidade e achava que as consultas médicas haviam sido feitas lá. Mas agora, não sei bem por que, perguntei. E ela me respondeu—Betty, o consultório dele é na sua rua, e acho que é bem na frente do seu apartamento. Ela me contou que ele fora recomendado por alguém da universidade que havia sido operado por ele e que ele tinha sido muito profissional e atencioso na época da cirurgia e nas três vezes que ela havia acompanhado a sua mãe ao seu consultório. E que as secretárias sempre foram simpáticas. Falou que sua mãe havia demorado para falar porque tiveram que mexer bastante com suas cordas vocais. Mas que agora estava inteiramente recuperada, dando-se bem com a medicação e, até, muito melhor do que antes.

Aquela resposta à minha oração era boa demais para acreditar! E tão logo! Agora eu conhecia uma pessoa que poderia testemunhar da capacidade de um cirurgião na área que eu precisava. E sabia que existia pelo menos uma outra mulher que também ficara satisfeita com o resultado do seu trabalho. E não apenas isto, o homem clinicava bem na minha frente! (Adiciono aqui que o consultório é tão próximo que posso ver a janela dele da nossa sala). Ainda assim, quando, logo depois, chegou um e-mail da R— com o endereço e telefone do médico, hesitei em ligar. Deveria fazer isto mesmo? Quais as chances de ter que enfrentar uma outra secretária chata? Mais tarde, falando com R— novamente, sobre outro assunto, ela perguntou se eu havia ligado. Não, ainda não. Ela não disse nada. Mas parecia uma cutucada do céu. Peguei os dados e arrisquei telefonar.

A moça que atendeu era uma simpatia. Descobri que ele atende toda manhã exceto nas quartas, quando vem à tarde. Sim, ele tinha a agenda muito cheia, mas ela poderia me encaixar na quinta-feira. Hmmm. Logo o dia em que meu marido não poderia ir. Pisando em ovos, sem querer inimizar a moça logo de cara, expliquei que eu já fora encaminhado para um cirurgião e fizera vários exames. Entretanto, o doutor V— havia sido muito bem recomendado e eu queria fazer uma consulta para falar da possibilidade dele me operar. Ao mesmo tempo, meu marido queria me acompanhar e quinta-feira era exatamente o dia em que ele não podia. Ela foi gentil e disse que agora não havia nada disponível antes disto, mas que era possível que alguém desmarcasse e, então, eu poderia entrar no lugar. Marquei para quinta de manhã, perguntando se poderia ligar novamente no começo da semana. Ela me disse que podia, com certeza.  Não cancelei o outro, que seria para quinta à tarde.

Corri então para a Internet. Coloquei o nome e encontrei o curriculum lattes deste que é cirurgião de cabeça e pescoço de um hospital renomado e professor de uma universidade igualmente reconhecida. Já participou de dezenas de conferências nacionais e internacionais, assistindo e dando cursos, palestras e apresentações; esteve e está envolvido em estudos e pesquisas… Especializando em qual área do corpo? Adivinhe qual a palavra que se repete em quase cada feito listado? Começa com “t”. TIREÓIDE! Como fiquei alegre! De repente, me dei conta que não sentia mais aquele peso de necessitar da companhia do meu marido para avaliar o homem. Entrei no fim-de-semana da Páscoa com o coração leve e grato.

Isto aconteceu na semana passada, no dia 09—entre o dia em que escrevi o post anterior (08, antes de conversar com o médico por telefone e me frustrar novamente com a secretária naquela noite) e o dia em que publiquei o post no meu blog (10, depois de passar pelas correções e revisões dos meus sogros e marido). Eu não queria mudar mais nada no escrito porque já era longo e, apesar do meu entusiasmo inicial, era preciso esperar o desenrolar dos eventos desta semana para ver se realmente seria aquilo que almejava.

Agora já conheci duas secretárias muito melhores, meu marido me acompanhou na quarta-feira (anteciparam a data da consulta), gostamos do especialista e a cirurgia foi marcada para o dia 18 de maio. Vou fazer mais alguns exames com nomes estranhos. Cancelei a consulta e a cirurgia com o outro médico, deixando um recado gentil com a secretária da manhã. Sinto-me aliviada e, de certa forma, por incrível que pareça, grata por aquela moça incompetente que me fez repensar o rumo que já havia decidido.

Creio que teria enfrentado e superado as remarcações, e a dificuldade em conciliar as datas. Teria, também, persistido em lutar contra minha insegurança a respeito da capacidade do especialista SE aquela secretária tivesse sido mais simpática e sensível, com um mínimo de treinamento em tato e diplomacia. Mas ela me aborreceu e, na minha frustração, clamei a Deus. Na sua misericórdia, Ele abriu uma nova porta e estou passando por ela na mesma direção, mas por um outro caminho, que me parece ser melhor e mais seguro.

Outra hora, pode ser, contarei mais sobre esta última consulta com detalhes, e sobre os exames e procedimentos que terei que passar. Talvez seja interessante ou proveitoso para aqueles dos meus leitores que já passaram ou ainda passarão por uma cirurgia parecida…

Abs, Betty

(Continua aqui)

10 Comentários a “A Bênção que veio através de uma Secretária Incompetente”

  1. Maria Alice disse:

    Betty
    Como é bom ser sustentada, dirigida, confortada, amparada pelas mãos do Deus Poderoso, Amoroso que conhece todas as nossas necessidades e satisfaz os desejos do nosso coração quando n’Ele descansamos.
    Meu fraternal abraço,

    Maria Alice

  2. izilda caravieri disse:

    Olá Izabel, tenho compartilhado de sua luta atravès do seu blog, realmente a Graça de ter-mos um Deus como o nosso é maravilhoso!!!e é nos momentos de mais afliçao que Ele nos responde prontamente!, tenho passado por momentos iguais, ,não comigo, mas com familiares, e Deus sempre me guia no que falar e no agir, já sei que sua cirurgia correu bem, e que voce está em plena recuperação!!! Que Deus continue te abençoando ,pra que possa continuar escrevendo, eu amo CRONICAS DO COTIDIANO e recomendo pra todas as pessoas que conheço, abraços fraternos no seu esposo, já li muitos de seus livros, que foram muito importantes para o meu crescimento espiritual, visto que me converti ao SENHOR JESUS sómente à 9 anos, beijos de sua irmã em Cristo Izilda.

  3. izilda caravieri disse:

    Desculpe o erro no seu nome, cismei que se chama izabel, mas sempre leio seus artigos na revista da SAF, e amo cada um deles, beijos Betty!!

  4. Tânia Cassiano disse:

    Betty,
    Entrei por “acaso” no seu site e quase não conseguí parar de ler suas
    crônicas. Bem humoradas, sérias, comoventes e principalmente teste-munham do seu amor e fidelidade a Deus. Foram edificantes. Vou deixar prá ler as outras depois. Estou morrendo de sono.
    Um abraço, fiquei feliz por sua recuperação.
    Que Deus a abençoe.
    Tânia

  5. Jurací de Matos disse:

    Minha amada, Paz do Senhor Jesus.
    Lí seu comentário e posso lhe dizer uma coisa com muita certesa, a secretária, mal aamada era um instrumento de Deus na sua vida, ela lhe tirou do caminho de não ser bem atendida, do médico lhe deixar uma marca eterna.
    Glorifique a Deus pela vida dela, tudo que ela fez pode ter lhe salvado a vida.
    Amém
    Tia Jura.

  6. Andreia Dias disse:

    Betty te conheci na igreja presbiteriana em Camaçari, foi muito agradável a nossa reunião da SAF, louvo a Deus por sua vida e a do seu esposo pois me foram edificantes as suas palavras.

  7. Alinye disse:

    Olá,
    Nossa estou passando pelo mesmo que você, preciso retirar a tireoide e não tenho um médico de confiança. Pedi a Deus pra me ajudar e tenho certeza que foi por suas mãos que encontrei seu blog! Você poderia me passar a indicação desse médico que te operou? um abraço

  8. betty disse:

    responderei no seu e-mail.

  9. Luciana disse:

    Olá Betty, por Deus acabei achando este texto, e gostaria que vc me indicasse o nome do seu cirurgião (pelo e-mail) pois passei o mesmo que vc com uma secretária insensível.
    Obrigada, eum forte abraço,
    Lu

  10. Germana disse:

    Olá! Qual o nome do seu cirurgião da tireoide?

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