Minha Filha Quer Casar! (1)– Um Presente bem Especial

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19 de março de 2008. Estou revendo os posts do meu blog, adicionando os assuntos que se aplicam a cada texto. Chegando neste post, fiquei na dúvida se não seria melhor retirá-lo pois, afinal, o casamento do qual falo acabou não se realizando. Os noivos romperam pouco tempo depois e, atualmente, Deus parece estar encaminhando cada um em direção a outro futuro conjuge.  Entretanto, as minhas reflexões aqui falam de altruísmo, que é um assunto importante. Para a mensagem ter sentido, o contexto tem que ficar. Portanto, por enquanto, pelo menos, o post fica…

Segue o post original.

22 de fevereiro de 2007. Daqui a alguns meses, em junho para ser exato, nossa única filha (tenho três outros filhos) pretende casar-se. Portanto, grande parte das nossas vidas está envolvida com as preparações que cercam a cerimônia do seu casamento. E eu, como sempre, fico filosofando sobre cada experiência, sobre o evento em si e sobre relacionamentos. Penso naquele que ela estará estabelecendo; no que temos com ela; como eram os relacionamento conjugais, do passado; e também sobre os relacionamentos daqueles que me cercam, tanto no mundo dos evangélicos quanto na esfera dos que não conhecem a Deus…

Quase tudo que diz respeito ao noivado e ao futuro da nossa menina está fora das “regras” convencionais. De certo modo, ela está trilhando nos passos da mãe, escolhendo seguir um rapaz até o outro lado do mundo. Entretanto, é possível que os desafios que ela enfrentará venham a ser maiores do que os meus—eu, pelo menos, fiquei no lado ocidental da civilização, transferindo-me apenas do norte para o sul. Ela, porém, estará se deslocando do ocidente para o oriente, onde as diferenças são ainda mais intensas. O noivo dela nasceu e mora na Índia.

Conheceram-se na faculdade, uma universidade cristã da Califórnia focada em receber bem os alunos internacionais, quando ele estava no último ano e ela no primeiro. Lá, eles  tornaram-se bons amigos. Até participaram conjuntamente de programações da escola e se davam bem, mas não pensaram em namorar—talvez porque ambos pretendiam voltar ao seu próprio país. O rapaz eventualmente retornou para a Índia, onde trabalha em vários ministérios—seu pai é pastor evangélico. A nossa filha terminou seu curso em aconselhamento bíblico e voltou ao Brasil, para trabalhar numa escola evangélica. Continuaram a se corresponder via e-mails esporádicos que mandavam simultaneamente para amigos mútuos, às vezes com pequenos bilhetes comentando isto ou aquilo da carta do outro.

Um dia, G… ( a nossa filha) recebeu uma carta de S…  dizendo que a família dele ficava apresentando algumas moças para ele porque achavam que ele precisava casar-se (na ocasião estava com 25 anos). Disse ele que toda vez que imaginava uma companheira ideal, só pensava em G… e que, depois de muita aflição e oração, estava escrevendo para ela sobre isto. Assim, iniciou-se este “namoro virtual”. Ele já esteve aqui, no Brasil, duas vezes e ela já viajou para lá em 2006 (as suas experiências nas poucas semanas que esteve na Índia dariam um filme fantástico com elementos de alegria, comédia, romance, aventura, suspense e até terror—eles, definitivamente, se casarem, vão ter histórias para contar para os filhos e netos!). Agora, estamos na reta final do casamento marcado. Não pretendem ir diretamente para a Índia, pois ele aceitou uma bolsa para estudar num seminário na Califórnia e eles, o Senhor Deus permitindo, pretendem passar três ou quatro anos lá antes dele regressar para ministrar no país em que nasceu. Enfrentam grandes incertezas—foram informados que uma igreja americana está interessada em aproveitar os seus dons e adotá-los—mas esta promessa pode significar desde um apartamento mobiliado, algum transporte e outros benefícios (como já vimos lá), até uma simples ajuda para os custos relacionados com os estudos—sem muita preocupação com os detalhes da sobrevivência (como também temos visto, tanto lá quanto cá…).

Eu anotei vários pensamentos que surgiram com as atividades preparatórias para este evento e, com o consentimento da G…, tentarei transformá-los em postagens para este blog. Entretanto, as impressões que vou compartilhar hoje nem tratam do evento em si, mas foram despertadas por algo que enxergo como uma bela atitude por trás de um presente que eles receberam. Percebo, envergonhada, como eu preciso me conscientizar mais e mais da beleza e da necessidade de posturas assim na minha própria vida cristã.

Há alguns dias, nossa filha nos enviou um e-mail. Quase eufórica, ela compartilhou que um casal americano havia escrito dizendo que iria contribuir mil e poucos dólares como ajuda para eles. Poderia ser para o casamento em si, para as despesas das múltiplas viagens envolvidas ou para a lua-de-mel; para ajudar com o custo-de-vida enquanto ele estiver estudando, ou para mobiliar sua moradia—já que não terão oportunidade de colocar listas em lojas e transportar móveis e eletrodomésticos nas suas malas…

Alguém poderia dizer—pois é, americano é rico! Mil dólares para eles é “fichinha”. Só que “P” e “D” (como chamarei esses irmãos) não são ricos. É verdade que não são pobres, mas eles estão envolvidos no ministério de uma igreja e desconfio que não devem ter muita coisa guardada na poupança para os ajudar na velhice (lembremos que o tratamento médico e hospitalar de lá não é oferecido pelo estado). “D” mandou um e-mail dizendo o seguinte: “O Senhor nos deu esta oferta e ainda outras, de maneira totalmente inesperada. Ele tem sido tão bom e continuamente nos abençoa—agradeçam a Ele como nós estamos fazendo!”

Portanto, deixaram de colocar o dinheiro na poupança. Talvez adiaram a compra de um carro melhor, ou não cederam ao sonho de colocar uma TV de plasma no quarto. Deixaram a compra de um terno ou um vestido novo para depois. A “D” pode ter evitado nutrir o desejo de fazer uma cirurgia plástica para rejuvenescer um pouco. Ou de comprar uma jóia. Eu não sei. Apenas posso imaginar as coisas que eles se recusaram a comprar ou fazer, e vejo que os dois não se deixaram seduzir por nenhuma das milhares de propostas consumistas do seu país. Em vez disto, optaram por enviar este dinheiro para nossa filha e seu noivo para encorajá-los no caminho que resolveram trilhar. Desta maneira, estão sendo canal do amor e da bênção de Deus para este casal. Não é lindo, isto?!

“P” e “D” interagem com uma igreja com 8.000 membros; com uma faculdade com mais de mil alunos; com uma classe de Escola Dominical que tem cerca de 500 alunos; e, além disso, têm três filhos… O que mais me impressiona é que S… e G… fizeram parte desta multidão—mas não fazem mais. Eles não se movem mais no dia-a-dia deles, em que existem muitas outras pessoas que devem clamar por sua atenção. E Stephen nem irá para o seminário ao qual o “P” está ligado. Portanto, concluo que esta amostra de carinho deve ser apenas parte daquilo que eles fazem com o que Deus lhes dá.

Eu não conheço este casal, mas suponho que ambos têm um coração missionário—eles devem perceber em S… um rapaz fiel que está sendo uma bênção ao seu próprio povo e que poderá se preparar ainda melhor para ser um líder espiritual na Índia (e não é legal observar outras pessoas reconhecerem virtudes e caráter no rapaz que nossa filha escolheu?)! Eles devem, também, ter visto algo valioso na nossa filha para não apenas torcer por este relacionamento inusitado dar certo, mas também fazendo algo concreto para ajudá-los quando chegarem aos Estados Unidos em agosto. Isto porque eles sabem que S… and G…. entrarão na vida de casados sem aquele processo normal de receber um monte de presentes; enquanto terão muitas incertezas sobre como irão complementar a bolsa de estudos com empregos autorizados pelo governo. “P” e “D” resolveram que Deus se agradaria se eles contribuíssem para aliviar algumas dessas necessidades.

E eu fico pensando, sobre como quão pouco nós nos preocupamos com o bem-estar de alguém que não está mais presente em nosso meio, ainda que seja apenas orando por ele. Tem tantas pessoas que nos abençoaram no passado e que podem estar passando por necessidades. Quantas vezes nos convencemos que já bastam os problemas e responsabilidades da nossa própria família e que Deus pode muito bem usar outras pessoas e meios para cuidar dos seus outros filhos! Existem missionários que nos impactaram com seu chamado, mas que morreriam de fome se esperassem por uma contribuição mensal (ou até anual) da nossa parte. Quantos de nós são do tipo que apenas ofertam quando alguém vem nos “importunar” para socorrer com isto ou aquilo?

Eu conheço uma mãe que pensou em não deixar sua filha participar do grupo das crianças na igreja para não ter que dizer “não vai dar, filha”, apenas por não ter o dinheiro para pagar o lanche no passeio providenciado com tanto esmero pela igreja. Foi preciso alguém atento para perceber o problema e remediá-lo daí em diante, não só daquela vez e não só para aquela pessoa…

Continuando, quantos de nós investimos em jovens promissores da nossa igreja, verificando se eles podem pagar o preço dos acampamentos (e se eles têm acesso aos itens da relação de coisas que precisam, começando com uma mala adequada para levar tudo)? Estamos alertas ao fato de que eles podem estar querendo fazer este ou aquele vestibular mas que talvez não tenham os recursos para pagar a inscrição? Estamos notando que eles podem estar desistindo do sonho de um ensino superior porque faltam-lhes uns míseros cem reais por mês?

Sim, digo míseros porque muitos de nós gastamos isto, sem piscar, em itens freqüentemente supérfluos, como o aluguel (ou compra) de DVDs ou videogames; em cinemas; em produtos de beleza e tratamentos de estética; ou num almoço ou jantar entre amigos num restaurante. Todas essas são coisas legítimas, mas podem fazer com que deixemos de mostrar a nossa gratidão a Cristo quando optamos por não compartilhar as bênçãos que Ele nos concedeu… Precisamos abrir os olhos e enxergar as oportunidades de promover o auto-desenvolvimento dos nossos irmãos menos favorecidos, até de modo sistemático e prolongado…

Eu fiquei emocionada com o gesto de “P” e “D”. E com várias outras demonstrações de carinho oferecidas à nossa família recentemente. E me sinto mais responsável ainda para gastar bem o nosso próprio tempo e dinheiro, para que a ajuda que vem de fora não seja nunca para repor aquilo que desperdiçamos, mas sirva sempre para complementar e realçar o nosso próprio esforço; para serem instrumentos de bênção do nosso Pai celestial.

Acabo de parafrasear algumas palavras de João para mim mesma: Nisto conheço o que é amor: Jesus Cristo deu a sua vida por mim, e devo dar a minha vida pelos meus irmãos. Se eu tiver recursos materiais e, vendo meu irmão ou minha irmã em necessidade, não me compadecer dele ou dela, como pode permanecer em mim o amor de Deus? I João 3.16,17.

Que este amor possa permanecer e transbordar na vida de cada um de nós. Que possamos olhar ao nosso redor e ver irmãos que alcançaram, ou que estejam atingindo, objetivos nobres (como espero que aconteça com minha filha e meu futuro genro) porque eu ou você paramos e abrimos os nossos olhos para realmente ver a sua necessidade… Porque eu ou você encontramos maneiras e oportunidades para demonstrar o nosso compadecimento, propositadamente “padecendo junto” e abrindo mão da nossa “vida”—provavelmente nem dando-a em termos de morrer, mas apenas abdicando de alguns desejos, sonhos ou aspirações ou simplesmente adiando a hora de alcança-los! Betty

Um Comentário a “Minha Filha Quer Casar! (1)– Um Presente bem Especial”

  1. heloisa m junqueira costa disse:

    Querida Beth, ao ler seu artigo e vendo como os planos em nossa vida só pertencem ao nosso Deus. Pois veja só o que aconteceu com a Grace/Andre. Mas o que realmente quero comentar seria em relação a olharmos para nossos irmãos menos favorecidos ou aquele que Deus coloca em nossa frente para auxiliarmos. Nossa familia sempre teve o coração nas coisas que possam auxiliar os outros , e como isto é bom.
    Fique na Paz

    Helo

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