Posso Me Enfeitar?

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É certo usar jóias ou maquiagem? A resposta a esta pergunta continua sendo bastante polêmica para muitas mulheres e moças na igreja cristã. Dentro da nossa denominação, a controvérsia talvez não seja tão grande, pois a maioria usa. Mas, muitas vezes, quando confrontadas por irmãs que se abstêm do uso de adornos, ficamos sem resposta bíblica às suas principais argumentações, mas continuamos com as mesmas práticas. Isto é preocupante.

Romanos 14:12, 22 e 23 nos diz: Assim, pois, cada uma de nós dará contas de si mesmo a Deus … Bem-aventurada é aquela que não se condena naquilo que aprova. Mas aquela que tem dúvidas, é condenada… porque o que faz não provém de fé; e tudo, o que não provém de fé, é pecado. Assim, muitas de nós ficamos incomodadas, e com razão, pois nossa falta de certeza sobre o nosso comportamento implica que estamos pecando, enquanto fazemos algo que talvez não seja pecaminoso. Por esta razão, vamos examinar os textos principais sobre este assunto e descobrir porque algumas mulheres no meio cristão, enquanto respeitam a opinião sincera das suas irmãs em Cristo, não têm dúvidas sobre a sua própria atitude com relação ao adorno feminino.

Duas passagens bíblicas parecem transmitir uma proibição bem clara.

1 Timóteo 2:9 e 10 diz: …que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso, porém com boas obras (como é próprio às mulheres que professam ser piedosas).

1 Pedro 3:3-6 declara o seguinte: Não seja o adorno das esposas o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande valor diante de Deus. Pois foi assim …Sara, que obedeceu a Abraão, chamando-lhe senhor, da qual vós vos tomastes filhas, praticando o bem e não temendo perturbação alguma. Paulo e Pedro, falando das senhoras e moças nas recém-formadas igrejas, comparam dois tipos de “adornos”.

Aparentemente, os dois condenam “o adorno exterior”. Mas olhemos agora, com muita atenção, quatro passagens da Bíblia (escolhidas dentre muitas) em que são feitas comparações ou contrastes.

No Antigo Testamento, em Gênesis 45:8. José fala: …não fostes vós que me enviastes para cá, e, sim, Deus… Assim, à primeira vista, poderíamos concluir que os irmãos de José não o mandaram para Egito. Acontece, porém, que um pouquinho antes (vs.4), José já havia dito: Eu sou José, vosso irmão, a quem vendestes, para o Egito.

No Novo Testamento, podemos estranhar algumas declarações de Jesus. Em Lucas 14:12 ele ensina: Quando deres um jantar ou uma ceia, não convides os teus amigos,… nem teus parentes,… antes convida os pobres… Depois, em João 6:27, ele aconselha: Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, …Falando de Lázaro em João 11 :4, Jesus diz: Esta enfermidade não é para morte, e, sim, para a glória de Deus.

Devemos concluir que Jesus proibe que convidemos os nossos amigos para jantar em nossa casa e que não devemos trabalhar pelo nosso sustento? Será que Lázaro não morreu? Como explicar então que o Senhor Jesus frequente e alegremente aceita convites para jantar (Lucas 7:36, João 12:2) e organiza a “última ceia” para celebrar a Páscoa com seus amigos mais íntimos, os discípulos (Lucas 22:7-23)? Será que Paulo está contradizendo Jesus quando ele ordena que aquele que não quer trabalhar, não deve receber comida e exorta às pessoas preguiçosas a trabalhar para comer (2 Tessalonicenses 3:10 a 12)? Como explicar a revelação posterior de Jesus em João 11:14 quando ele diz claramente: Lázaro morreu?

A resposta ao enigma é simples. Acontece que estamos lidando com uma expressão idiomática usada frequentemente pelos hebreus. Em muitas ocasiões, quando queriam comparar ou contrastar duas coisas, eles deixavam de lado as palavras limitadoras e diziam coisas opostas para enfatizarem o que queriam dizer. Muitas vezes diziam “nao…, mas” ou “nao…, sim” quando queriam dizer “nem tanto…, mas multo mais” ou “não primariamente (ou somente ou apenas)… mas especialmente (ou também)”. Todo mundo, quase sempre, entendia aquilo do jeito que deveria ser entendido. Mas a nossa língua não funciona assim e quando a Bíblia foi traduzida para a língua portuguesa (e para muitas outras línguas também), os tradutores, nestes casos, deixaram o entendimento ao nosso bom senso em vez de adicionarem palavras àquelas que se encontravam no texto original.

Vamos voltar aos nossos versículos e colocar palavras que farão com que as declarações tenham sentido em nossa língua.

Assim não fostes apenas vós que me enviastes para cá, mas muito mais Deus…

Quando deres um jantar… não convides apenas os teus amigos, …mas convida especialmente os pobres…

Trabalhai, não primariamente pela comida que perece, mas especialmente pela que subsiste para a vida eterna…

Esta enfermidade não é primariamente para morte, mas especialmente para a glória de Deus.

Usando a mesma regra de entendimento, os versículos sobre adorno podem ser lidos da seguinte maneira:

Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, nem tanto com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso, mas especialmente com boas obras…

Não seja o adorno das esposas primariamente o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; mas muito (infinitamente!) mais o homem interior do coração, unido ao incorruptível de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande valor diante de Deus.

Vemos, assim, que a adição de certas palavras é necessária, às vezes, para que não haja distorções na mensagem de Deus. Mas isto não significa que deve ser feito sempre. Provamos que existe a possibilidade de que Paulo e Pedro usaram a usual maneira hebraica para enfatizar este contraste entre o “adorno” físico e o espiritual. Mas é preciso verificar o que indicam as outras citações bíblicas sobre jóias e adornos femininos. Será que a Bíblia evidencia que estes têm desagradado a Deus desde o início dos tempos?

Abraão, marido de Sara, aquela que Pedro elogia como exemplo de “mulher santa,” envia pulseiras, pendentes de ouro e vestidos para a futura esposa do seu filho (Gênesis 24:22, 47, 53) e Deus abençoa todos os passos para a realização deste matrimônio.

Deus permite que os israelitas recebam jóias do povo do Egito (Êxodo 12:35) e recebe, com agrado, a contribuição voluntária destas para serem transformadas em utensílios e enfeites para o tabernáculo, o lugar em que Ele será adorado. (Êxodo 35:22,23; 28:17-20). Êxodo 35 a 39 descreve a beleza deste tabernáculo e os detalhes das vestes dos sacerdotes, tudo do melhor e do mais bonito. Ouro, linho, pedras preciosas, anéis, argolas, coroa… E quando os israelitas tiram o espólio do povo de Canaã, Deus nunca dá ordens para que deixem de lado ou aproveitem de outra maneira as jóias que com certeza estão entre as riquezas que podem levar (Josué 22:8).

Nos Cantares de Salomão, que ao mesmo tempo são um poema sobre o amor humano e uma expressão do amor entre Deus e o seu povo, o esposo fala dos enfeites de ouro com incrustações de prata e colares que ele quer dar à sua amada (1:10,11). Em Provérbios 11:9 e 25:12 a instrução dos pais e a palavra do sábio repreensor são consideradas diadema de graça para a tua cabeça, colares para o teu pescoço, e pendentes e jóias de ouro puro.

Olhe como Deus descreve o seu amor para com o povo de Israel em Ezequiel 16:8-14 onde Ele diz: Também te adornei com enfeites, e te pus braceletes nas mãos e um colar a roda do teu pescoço. Coloquei-te um pendente no nariz, arrecadas nas orelhas, e linda coroa na cabeça. Em Isaías 61:10, a beleza da salvação é comparada à da noiva que se enfeita com as suas jóias, enquanto que em Apocalipse 21:2, a Nova Jerusalém é ataviada como uma noiva adornada para o seu esposo. As pérolas são consideradas coisas de valor por Jesus em Mateus 7:6 e por Deus em Apocalipse 21:21.

A leitura das citações acima demonstra que Deus não usou as oportunidades que seriam as óbvias para avisar o seu povo que Ele não queria o uso de adornos pessoais. Em vez disto, ele embelezou o seu tabernáculo e os sacerdotes com jóias e adornos. Personagens bíblicas usaram jóias sem recriminação por sua parte. Passando ao Novo Testamento, Ele descreve a beleza da sua igreja e da futura Jerusalém, usando a mulher enfeitada como a ilustração mais adequada.

Então, desde que a Bíblia não apóia a aparente proibição das duas passagens em questão, em nenhum outro lugar, devemos poder entender o contraste traçado entre os adornos exterior e interior com a mesma leitura daquelas outras passagens, sem receio nenhum de estarmos torcendo a intenção das suas palavras e conselhos. Assim, podemos concluir que na Bíblia não há proibição do uso de adornos.

Mas não podemos nos empolgar demais com esta descoberta e esquecer que a parte mais importante (o “especialmente”, ou o “muito mais”) de ambos os versículos em questão, se encontra na outra metade. Há dois tipos de adornos, sim. Estabelecemos que não podemos dizer que um tipo está errado e o outro certo. Mas o contraste continua existindo, e este contraste é entre uma beleza exterior e uma beleza interior ou entre um adorno inferior e um adorno muito superior.

O nosso entendimento não deve, porém, parar aqui, pois é exatamente esta compreensão (que a beleza interior é infinitamente superior à exterior) que torna uma comunidade cristã tão especial. Pessoas fisicamente feias ou deformadas são sinceramente respeitadas e amadas por seu caráter, dons e atitudes. Há lugar para todos. Não é preciso ser bonito, rico, elegantemente vestido ou adornado para ter aceitação entre nós.

Por outro lado, a beleza externa pode ser promovida e utilizada para glorificar a Deus, sempre dentro do contexto das palavras de Paulo – com decência, modéstia e bom senso. Quando a mulher, que se diz cristã, gasta mais tempo, dinheiro e esforço com a sua aparência física de que com o desenvolvimento dos “frutos do espírito” (como a mansidão e a tranqüilidade que Pedro cita), algo está muito errado! Vale a pena um exame bem mais profundo destes dois tipos de beleza e de como devem ser considerados e cultivados, à luz do livro que o maravilhoso criador da beleza nos deu para indicar e iluminar o caminho daqueles que lhe amam.

Elizabeth Zekveld Portela
Publicado na SAF em Revista, 4º Trimestre, 1996
Estudo desenvolvido a partir da leitura de um livro em inglês
chamado “Women’s Adomment: What does the Bible really say?”
escrito por Ralph Woodrow.

Um texto mais amplo, escrito posteriormente, sobre este assunto, poderá ser encontrado em http://www.mackenzie.com.br/teologia/fides.htm

Volume 3/2 (Julho-Dezembro 1998)
O “Adorno” da Mulher Cristã: proibição ou privilégio?
Elizabeth Zekveld Portela

2 Comentários a “Posso Me Enfeitar?”

  1. RITA MARIA DOS SANTOS PIRES DIAS disse:

    EM JOSUÉ 1.8 OSENHOR ORIENTA A JOSUÉ A MEDITAR DIA E NOITE NO LIVRO DESTA LEI E QUE A MESMA NÃO SE APARTE DA SUA BOCA, DEVEMOS RETER O QUE É BÍBLICO, POIS A PALAVRA NOS RELATA QUE CONHECEREIS A VERDADE E A VERDADE VOS LIBERTARÁ, DE TODAS AS COISAS QUE DESAGRADA A SANTIDADE DE DEUS, TUDO É LÍCITO MAS, NEM TUDO CONVÉM, MODERAÇÃO , DISCREÇÃO, E UM POUCO DE SIMPLICIDADE SÓ ACRESCENTA, EXAMINE POIS O HOMEM A SI MESMO ANTES DE JULGAR DEVEMOS TIRAR A TRAVE DO NOSSO OLHO E PEDIR A DEUS QUE A CONVERSÃO GENUÍNA ESTEJA MANIFESTA EM NOSSOS CORAÇÕES, PORQUE ESTÁ ESCRITO EM SALMOS 119.11 ESCONDI A TUA PALAVRA NO MEU CORAÇÃO PARA NÃO, PECAR CONTRA TI.PAZ. MISSIONÁRIA RITA MARIA DOS SANTOS PIRES DIAS.FEIRA DE SANTANA-BA.

  2. Betty Portela disse:

    Querida irmã Rita Maria:

    É assim mesmo que procuro viver, de todo o coração.

    Que Deus lhe permita sempre mais sabedoria em interpretar e aplicar a Sua verdade, aproximando-se mais e mais da Sua vontade conforme expressa nesta Palavra tão preciosa, citada por você, para que você possa ser usado por Ele em todas as áreas da sua vida.

    Atenciosamente, Betty
    P.S. Tentei responder para seu endereço e a carta voltou.

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