Uma Rua Iluminada pelo Amor (Natal)

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Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus. –Mateus 5:16

Enquanto dirigia, Isabel observava os hóspedes que estava levando ao aeroporto. Karen e Ben haviam juntado os reais, em notas e moedas, da sua bolsa e bolsos. Agora Ben contava tudo. Ao terminar, retirou uma cédula. Quando pararam no sinal, Ben entregou-lhe um envelope com o restante.

–‘Bel, nós fomos tão bem atendidos aqui no Brasil! Acabamos gastando nem a metade daquilo que havíamos planejado. Assim sobraram muitos dos reais que trocamos por dólares ao chegar. Conversei com a Karen e oramos, ontem à noite, e resolvemos deixar isto com você para investir na “sua rua”.

Karen completou.
—Ficamos tão felizes em ver como Deus está trabalhando nas vidas das famílias que visitamos. Deu vontade de ajudar também. Tiramos só o suficiente para comprar um último cafezinho.

Emocionada, Isabel aceitou a oferta. Na despedida, alegremente, prometeu escrever para relatar aos seus amigos canadenses como o dinheiro seria utilizado. Quantas vezes não havia desejado poder dispor de mais recursos para proporcionar alívio, alento e alegria no dia-a-dia das famílias que haviam visitado juntos? Eram moradores de uma única rua que ladeava o córrego que corria próximo à casa dela. Alguns já haviam assumido um compromisso com Deus. Outros ainda estavam sendo evangelizados. Entretanto, no percurso de volta, a tarefa começou a pesar. —Vou precisar de muita sabedoria, pensou.

A sabedoria teria de vir de Deus e o assunto não saía das suas orações e cogitações, nos próximos dias. Entendeu logo que precisaria de alguém para ajudar a identificar as necessidades e assim compartilhou a boa notícia com Lucília [1].

—Ah, D. Isabel, a senhora vai ficar muito admirada. Acho que Deus está respondendo à minha oração. Na semana passada fui ajudar na festa de quatro anos da Paulinha, lá da igreja. Fizeram uma peça com fantoches. As crianças não desgrudaram os olhos daquilo nem um instante. Eu fiquei pensando, o tempo todo, como seria bom evangelizar as criancinhas da nossa rua assim. Eu quero tanto bem a elas e desconfio que até os pais podem ser alcançados deste jeito. Aí me lembrei que a Brenda, a nossa sobrinha do lado, vai fazer dois anos. Na mesma hora, pedi os fantoches e os enfeites emprestados. Mas depois, fiquei pensando que havia feito besteira porque deveríamos ter, pelo menos, bolo e refrigerantes para acompanhar o alimento espiritual. Nós não temos dinheiro sobrando, e Edna e Tião, menos ainda! Hoje mesmo eu estava falando com Deus sobre isto. O que a senhora acha de ajudar com esta idéia?

Algumas semanas depois, Isabel enviou fotos da festa e uma carta para Ben e Karen. Contou sobre a conversa com Lucília e continuou, —Agora vem a parte mais espantosa. Não gastamos nenhum tostão do seu dinheiro nesta festa! Bastou apenas ele existir! O entusiasmo de Lucília foi muito contagioso. Eu mesma fiz 20 convites no computador, usando o personagem da peça. Os pais da Brenda se responsabilizaram pelos refrigerantes e sua avó pelos copos, pratos e garfos. A família da Paulinha também se envolveu. Susana, a mãe, ensaiou a peça com Douglas e Tanya [2]. Uma tia deu 200 salgadinhos e a avó veio junto no dia para ajudar a Lucília a fazer docinhos e confeitar o bolo (e elas moram bem longe). Fabiana e Áurea [3] vieram arrumar e enfeitar.

Mas o milagre principal foi comprimir tantas crianças e mães dentro daquela pequena sala. Vocês se lembram do tamanho dela, não? Mas coube todo mundo (em pé) e, apesar do calor, todos se deleitaram com os contos, cantos e comidas. Realmente não sei se chegaram a compreender o significado total das palavras proferidas pelos adolescentes por trás das formiguinhas-fantoches mas, com certeza, a semente foi lançada e o amor de Deus ilustrado a todos que participaram — tanto aos organizadores quanto aos convidados. Preciso parar agora, mas tenho muito mais para lhes contar sobre como vocês já investiram nas áreas de saúde, informática, música… Até a próxima, Isabel

(E-mail do início de novembro).
Queridos amigos: … O seu “investimento” na “nossa rua” continua “rendendo”. Formei uma espécie de equipe de avaliação e oração com Lucília e Fabiana. O interessante é que elas evitam pedir para si. Estão sempre preocupados com aqueles que lhes cercam, querendo ampliar o alcance do seu testemunho. Sabem que estes enfrentam os problemas sem estarem abrigados no amor divino que elas mesmas experimentam. Assim, compramos alguns remédios emergenciais e custeamos uma viagem para uma pessoa visitar a mãe doente. Também cobrimos a dívida de um senhor, fiador de um parente desempregado. E ajudamos a comprar uma peça para que o dono de uma caminhonete pudesse fazer suas entregas…

Ao mesmo tempo, fico atenta às vidas dos filhos daqueles que já são membros da igreja. É preciso sempre procurar maneiras em diminuir a disparidade que há entre eles e as crianças de famílias com mais recursos, em termos de educação, cultura, lazer (acampamentos e passeios) e até roupas. Quando soubemos que a Lia, de 14 anos, estava economizando para comprar um teclado e que faltavam 50 reais para aproveitar-se da oferta de um usado, tivemos certeza que vocês gostariam de acudi-la. Logo depois, li um anúncio numa lojinha perto daqui. Era de uma professora de piano, querendo ensinar música clássica e evangélica. Vi a mão de Deus naquilo e a contratei. Por enquanto, as aulas estão sendo dadas aqui, em casa. e a Lia está se destacando pelo interesse e esforço. Sonho em vê-la tocando na igreja um dia ☺.

Ao mesmo tempo, Lia, Tanya e Douglas estão aprendendo a usar o nosso computador e os recursos da Internet para pesquisas escolares. A diretora da escola ao lado ajudou a encher uma estante com livros atuais para o uso deles. Não é maravilhoso como esse trabalho está crescendo?!! E já temos planos para reabastecer o fundo, pois seu “dinheirinho” está chegando ao fim. Depois lhes conto mais. Abraços da irmã em Cristo, Isabel

Os dias se passaram e o Natal estava se aproximando. Isabel sabia que as crianças da rua se lembravam das celebrações do ano anterior [4] e que já estavam esperançosas. Entretanto, seu Pai Celestial havia permitido uma série de eventos na sua vida que haviam sobrecarregado as contas bancárias. Poderia recorrer ao saldo mas isto significaria juros—logo algo que estava sempre incentivando todos a evitar. Assim, começou a orar para Deus alegrá-las por outros meios.

Enquanto isto, Lucília, Edna, Áurea e Fabiana estavam ajudando a preparar um “brechó-pechincha” no seu quintal. Os objetos usados viriam de uma faxina na casa de Isabel e também das próprias casas. Um dia, Isabel compartilhou a história da doação com as senhoras do seu grupo de estudo bíblico. Pediu orações para que os objetos vendidos alegrassem a muitos e, ao mesmo tempo, trouxessem alguns recursos para re-investir na comunidade. Nos dias seguintes, o telefone não parava de tocar. –‘Bel, temos várias caixas com brinquedos usados só esperando o destino certo… –‘Bel, vocês aceitariam móveis?…

(E-mail de 27 de dezembro)
Queridos, sei que nem lhes desejei um Feliz Natal, mas estivemos muitíssimo ocupados—e tudo por sua culpa ☺. Nosso “brechó-pechincha” foi um grande sucesso. Lucília e Fabiana colocaram os preços – uma tarefa nada fácil porque tinham de ser acessíveis e, ao mesmo tempo, servir para ampliar o nosso fundo. Seus maridos controlaram a entrada e a saída do povo que havia sido convidado da rua deles… Para as crianças, teve brinquedos, jogos e muitas roupas. Roupas lindas! Sapatos, tênis de marca, livros, revistinhas, bicicleta… Para os adultos, vestimentas, sapatos, bolsas, bijuterias, lençóis, toalhas, louça, ornamentos… O dono da caminhonete (lembra-se da peça que ajudamos a comprar?) se prontificou a buscar e entregar os móveis. Teve cama, mesinha, escrivaninha, cadeiras, ventilador… Tiago e Timóteo [5] ficaram no caixa somando, anotando e ensacando. Alguns insistiram em só pegar o que podiam pagar à vista; outros deram uma parceladazinha.

As “moças” haviam colocado um preço meio alto em uma linda cadeira de balanço. Todo mundo admirava, experimentava, mas não comprava. De vez em quando, a mãe da Fabiana, já idosa, passava por ela e alisava a madeira. Seu olhar era sonhador e, ao mesmo tempo, resignado. Finalmente, quando muitos já haviam partido, declarei “queima de estoque” e baixamos todos os preços pela metade. Fabiana e duas irmãs se juntaram e compraram a cadeira. Nunca me esquecerei do sorriso satisfeito suavizando aquele rosto sofrido. Só aquilo já valeria todo o esforço. Mas não terminei ainda!

Certas coisas que não teriam interesse àquelas pessoas, vendemos separadamente por valores mais altos. Contando algumas ofertas avulsas, ficamos com quase o triplo daquilo que vocês deixaram aqui!

E depois? Fizemos questão de separar um valor igual à sua oferta original e resolvemos gastar o resto em presentes de Natal para as crianças da rua. Os três adolescentes ajudaram. Relacionamos os nomes, e eles foram pesquisando o que cada pessoa já tinha (e não tinha). Dividimos o total por 25 (eram 23) e assim ficamos com um valor básico para cada compra. Depois, os larguei no Shopping, incumbidos de olhar tudo e fazer listas de possíveis presentes. Com sugestões e dicas dos atendentes, finalmente, saímos de lá com muitas sacolas.

E foi assim que vocês, tão distantes, inspiraram a “iluminação” de uma rua, em São Paulo, neste Natal. Pois as famílias cristãs que nela moram entregaram os presentes com a maravilhosa mensagem do nascimento da LUZ DO MUNDO, o Salvador Jesus, não apenas para seus filhos, mas para os dos vizinhos também. Uma dessas famílias aceitou participar do culto de Natal e pisou, pela primeira vez, em uma “igreja de crente”. Aleluia!

E ainda vamos começar o ano com o mesmo valor em caixa. As aulas de teclado continuarão. Só Deus sabe quanto mais este dinheiro vai render para a seara e para a glória dele. Quem diria, hein?! Aqui se diz “Deus lhe dê em dobro” quando alguém é generoso. E é este o desejo de todos nós para vocês. Feliz Ano Novo!

Um abraço apertado da sua amiga, Isabel

Elizabeth Zekveld Portela
Publicado na SAF em Revista, 4º Trimestre /2003

[1] A primeira a se converter das pessoas desta rua.
[2] Os filhos adolescentes de Lucília.
[3] Outras mães da rua, convertidas através do testemunho da família da Lucília.
[4] Ver SAF em Revista, 4º trimestre, 2001
[5] Filhos de Isabel.

SUGESTÕES PARA MEDITAÇÃO E/OU ATIVIDADES
1. Ao ler Mateus 5.16; Romanos 15.1-9 (esp. 2,7,9) e I Pedro 2.12 e 4.11, procure as palavras que completam esses pensamentos. Cada uma de nós deve se_____ a Deus. Ele nos dá fo____ para termos um procedimento ex_______, para agr_____ ao nosso pr______ e para ac_______ aos outros. As pessoas que ainda não são crentes (chamadas de ge______ aqui) podem vir a gl_______ a Deus quando elas verem as nossas b___ o____ e a nossa mi_______. Qual palavra aparece em cada texto? gl_________
2. O Espírito Santo usa uma combinação dos fatores acima para preparar o coração das pessoas para aceitar a mensagem da salvação por meio de Cristo. Se você foi atraído a Jesus pela bondade ou compaixão de alguém, separe um tempo para relembrar como aconteceu. Depois telefone ou escreva para esta pessoa compartilhando este fato.
3. A ação social nesta história sempre focaliza o bem espiritual dos moradores daquela rua. Avalie se (e como) os projetos da sua SAF e da sua igreja, e os seus projetos individuais também, levam os recebedores a verem a mão e o amor do Deus verdadeiro por trás de cada ação. Será que transmitimos o suficiente sobre nosso Deus para eles saberem que devem glorificá-lo?

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