A Caminho do Casamento do Caçula—Nova Iorque

Crônicas do Cotidiano > A Caminho do Casamento do Caçula—Nova Iorque

estatua2.jpg

Por falta de tempo, apenas agora estou tentando completar estes pensamentos que iniciei em Nova Iorque. É cedinho de manhã, em Boise, onde já estamos reunidos como família. Todos dormem ao meu redor—em três quartos, em colchões de ar na sala… Depois de centenas de horas acumuladas pela família Portela voando pelos ares deste planeta, e mais algumas outras em carros emprestados ou alugados, e depois de muitas mensagens de texto enviadas via celulares para avisar onde estamos e quando esperamos chegar, estivemos alojados todos juntos numa casa por dois dias, saindo para ajudar com as preparações, fazer compras, tirar fotos…

Hoje é dia do ensaio do casamento e do rehearsal dinner (jantar do ensaio onde os pais do noivo custeiam um jantar para todos os participantes). Também pousarão dois dos meus irmãos, com suas outras metades, no aeroporto daqui, iniciando a incursão da minha família norte-americana. Serão mais encontros e reencontros pois a família tem crescido e ainda não conheço cônjuge e filhos de algumas das minhas sobrinhas. Minha filha e nora devem acordar daqui a pouco pois querem rodar os yard sales da área comigo (liquidações de vizinhos de uma rua, onde colocam tudo que não querem mais no quintal da casa) antes de irmos para a igreja ajudar na decoração do salão de recepção.

Faz três anos que estive nos Estados Unidos pela última vez (para casar o nosso mais velho) e 34 desde que morei neste país (mas não sou americana). Foi no estado ao lado de Nova Iorque, em Nova Jersey, que conheci o Solano. E foi no consulado brasileiro em Nova Iorque que consegui meu visto permanente. Tenho feito, entretanto, pouco turismo naquela cidade. Solano rodou aqui com Darius (o noivo) no ano passado mas Aline, Grace e Daniel ainda não a conheciam (apesar de terem morado no país).

Assim avaliamos muitas coisas com os olhos curiosos de visitantes mas, ao mesmo tempo, reconhecemos outros elementos com a percepção de antigos moradores da terra. Aventuramo-nos no desconhecido (lugares e cenários) mas também relembramos o familiar (lojas, restaurantes, hábitos, alimentos, costumes)… Assim matamos a saudade de pancakes, french toast, breakfast sausage, bacon e waffles, típicos da refeição matinal, pedindo para nos servir café da manhã para o almoço ou para o jantar… Comemos bagles e donuts, muffins e cinnamon rolls, pretzels e cherry vanilla ice cream… Passamos horas nas livrarias e lojas, procurando, examinando e admirando objetos. Há tantas novidades aqui…

E o que impressiona em Nova Iorque é que, para a maioria das pessoas que se submetem a serem arregimentadas em longas filas para verem monumentos e memoriais, museus e parques, estátuas e pontos históricos, grande parte daquilo que nunca antes viram em pessoa, ainda assim lhes é familiar e estimado. Afinal, já acompanharam as aventuras e desventuras de dezenas e centenas de pessoas reais e personagens fictícias em livros e revistas, documentários e filmes… Procuram e reconhecem bairros, ruas, prédios, esquinas, parques, estações do metrô….

Já foram para Ellis Island com “Hitch” ou (para aqueles que são um pouco mais velhos) se conscientizaram dos sofrimentos de imigrantes europeus acompanhando o ratinho Fievel no filme-desenho de Spielberg “Um Conto Americano” (1986)…. (Enquanto em Nova Iorque, fizemos as viagens de barco para vermos a Estatua da Liberdade e para tentar sentir a emoção e a esperança dos imigrantes de terras longínquas ao vê-la, nos muitos anos que antecederam as viagens aéreas, e o medo e a humilhação do centro de triagem no Ellis Island.)

SolBettyNY.jpg
A caminho do Barco para Ellis Island

Muitos, como nós, já andaram pelos corredores do Museu de História Natural interagindo com os cenários em que ficam os primatas e os índios, os dinossauros e os animais com Ben Stiller em “Uma Noite no Museu”….

museu.jpg
Grace e Aline no Museu de História Natural

Todos lembram-se do King Kong no Empire State Building e mulheres românticas como eu recordam como Meg Ryan e Tom Hanks finalmente se encontraram lá em “Sintonia do Amor” ou como Deborah Kerr e Cary Grant marcaram seu reencontro neste local em “Tarde Demais para Esquecer.”

EmpireState.jpg
Empire State Building

Agora conferem se os cenários da sua imaginação batem com a realidade. Procuram sentir a emoção de Frank Sinatra quando cantou “New York, New York”… Tentam assimilar a crueldade e o terror do dia onze de setembro no “Ground Zero”, onde caíram as Torres Gêmeas…

GroundZero.jpg

Estamos respirando os mortos, levando-os para os nossos pulmões
como os levamos nos braços enquanto vivos.

Vão para uma loja de Starbucks e pensam nas reflexões de Meg Ryan em “Uma Mensagem para Você”, sobre como o mero ato de comprar café envolve pelo menos seis decisões…

A lista dos filmes (e dos livros em que muitos são baseados) é enorme. Cada turista chega com suas próprias recordações e impressões, almejando sentir o prazer ou a emoção das personagens das suas lembranças e voltar para casa enriquecido de alguma maneira… Eu poderia blogar por horas sobre apenas este assunto.

A tentativa de impressionar o coração dos visitantes com estes pontos de contato e com a beleza e o valor da liberdade (real e maravilhosa) oferecida pelo país durante os séculos passados, fica ofuscada, entretanto, pela falta de educação dos seres humanos que recebem e servem os visitantes e pela carência de higiene e zelo na manutenção dos pontos turísticos (os banheiros na ilha da Estátua da Liberdade eram nojentos e os jardins no ponto de embarque pareciam um matagal).

banheirofemininoLiberdade.jpg
Banheiro na Ilha da Estátua da Liberdade

E não são apenas os americanos que nasceram naquele local que tendiam a ser bruscos, grosseiros ou insensíveis. Afinal, o sotaque nova-iorquino mistura-se com as pronúncias de pessoas do mundo inteiro, nos táxis, restaurantes, serviços, lojas e até nas agências governamentais. De fato, é muito difícil encontrar alguém que fala o inglês como aquele que aprendi no Canadá e que se fala em grande parte do restante dos Estados Unidos.

Mas, apesar das diferenças nas suas origens, a rabugice e a falta de educação parecem ser contagiosas, infectando os estrangeiros que chegam para morar e trabalhar naquele local, desde os que assumem posições burocráticas até os faxineiros. Lembro-me, entretanto, de ter observado o oposto num hospital público no Canadá há uns 20 anos atrás, numa outra metrópole internacional—Toronto—quando vi como todos os funcionários (independente de terem nascido canadenses, ou vindo como imigrantes jamaicanos, indianos, paquistaneses, holandeses ou portugueses…) haviam sido treinados a mostrar compaixão e respeito aos pacientes e seus familiares. Aparentemente, educação se aprende. Ou se desaprende.

Entretanto, ninguém deve julgar o país por esta cidade nem os americanos pelos nova iorquinos… Agora estamos em outro lugar do país. O contraste é enorme. O jeito, o trato, o comportamento—tudo é diferente… Mas mais sobre isto outra hora. Agora preciso dormir. Meu filho casa amanhã…

Abs, Betty

2 Comentários a “A Caminho do Casamento do Caçula—Nova Iorque”

  1. Ana Paula disse:

    Querida Betty, não lhe conheço pessoalmente, mas quero partilhar algo com vc, hoje uma tristeza tomou conta do meu coração, então entrei na internet para procurar artigos escritos pela saudosa irmã Wanda Assumpção, então reencontrei seu blog, comecei a ler as coisas que vc escreve, eu me emocionei e senti uma paz tão grande…
    Descobri o seu blog em 2007, mas nunca deixei comentário e hj resolvi deixar, porque senti uma paz tão grande ao entrar no blog…
    Que Deus continue lhe abençoando ricamente!
    Abraço carinhoso do tamanho do Amazonas, Aninha Lucena.

  2. Grace disse:

    Pois é, mãe… Quantas aventuras com o povo “simpático” de Nova Iorque… Foi bom participar de um culto lá e ver que o povo de Deus é parecido em qualquer canto…

Deixe o seu comentário

Crônicas do Cotidiano > A Caminho do Casamento do Caçula—Nova Iorque