A Minha Vida Ficou Mais Florida (9)

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Seguem porções de mais uma “história florida” da minha sogra, Valderez Sena Portela.


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Enfeitando o Colégio, Eternizando Amizades

Quando cheguei ao “Agnes” no Recife, em 1939, eu já conhecia o Colégio de longe, pois a minha irmã Abigail estudara alí. (…). Eu o achava lindo, com a sua imponente fachada, e seu edifício principal plantado no meio de um jardim imenso, com suas fileiras e palmeiras imperiais, ladeando os canteiros de belas flores — miosótis, roseiras, bambus, papoulas, resedás, dálias, verbenas, gérberas, gladíolos brancos, vermelhos, amarelos e até azuis! Aqui e ali haviam estátuas da mitologia grega. Creio que estas me faziam lembrar a necessidade de estudar, com afinco, a literatura da Grécia… Havia, também, a estatueta de um enorme sapo com um repuxo d’água que o banhava e a derramava num canteiro onde ele estava — agora já estava velho e muito feio… Servia apenas para as meninas mais afoitas encarapitarem-se nele, e tirarem suas fotos. Um grupo fazia um triângulo formado de moças risonhas, lindas. (…)

Este foi o Colégio que encontrei e que me encantou durante todo o período de minha vida que lá passei. (…) Entrei no Agnes com quinze anos, na sexta classe, pois não estudara ainda francês, nem inglês. Poderia ter cursado a sétima série se já tivesse começado o inglês. Mas foi bom.

Durante quatro anos estudei. Procurei dar o melhor de mim em tudo que fizesse, compensando e sendo grata aos meus pais pelo sacrifício que eles faziam por mim. Queria alegrá-los saindo sempre, cada mês, no “rol de honra”, com as melhores notas. Possuo até hoje o meu último boletim. (Quando terminei o curso de professora, fui convidada para ensinar no Agnes Erskine e no 15 de Novembro em Garanhuns (colégio também evangélico). Optei pelo Agnes, pois já o considerava como meu segundo lar. Assim morei no colégio mais três anos—por um total de sete, até o meu casamento no fim de 1945).

Um dia, voltando das férias de junho (apenas oito dias) encontrei uma triste notícia. Miss Douglas (Margareth), a diretora a quem eu admirava e respeitava acima de todos, pela sua eficiência e caráter cristão impoluto, estivera hospitalizada e falecera. Ficamos, todas, muito tristes. O seu corpo estava sendo velado na Igreja Presbiteriana do Recife e, houve uma cerimônia. (…)

Mesmo cheias de saudades, tínhamos as nossas responsabilidades. O Colégio seguia o seu mesmo ritmo. Estávamos, porém, todas mais silenciosas, mais calmas. Logo uma outra missionária assumiu a diretoria. Mas esta também teve de voltar aos Estados Unidos. Miss Mason (Gertrude) ocupou o seu lugar.

Um dos trabalhos das internas tinha sido o de ajudar Miss Douglas a preparar os jarros, com flores, do Refeitório, da Sala de Entrada, da Secretaria e da Sala de Visitas, colocando-os em cada ambiente… No final da semana outras meninas tinham a tarefa de lavar todos os jarros… Agora notamos que as flores não estavam com arranjos tão bonitos quanto os que Miss Douglas fazia.

Então, três de nós receberam o chamado para irmos até ao Gabinete: Wanda Silveira, Hilda Silva e Valderez Sena… “O que seria? O que Miss Mason queria conosco, nós três da mesma classe”?

Lá estávamos, esperando por ela e, ela, vermelha como um pimentão, meio encabulada, perguntou se gostávamos de flores, se achávamos bom na semana que ajudávamos Miss Douglas, com as flores. E nem nos deixou falar! Foi logo dizendo — “Herdei este trabalho de Miss Douglas, mas eu não tenho o jeito, a habilidade que ela possuía pra arrumar os jarros… Vocês gostariam de trabalhar com as flores? Deixariam as demais tarefas e, durante o ano todo, desde o primeiro dia de aula, até o último, lavariam os jarros, apanhariam as flores no jardim e as poriam nos jarros e nas respectivas mesas… Seriam, então, as “continuadoras” do trabalho “artístico” de Miss Douglas. Pensem, discutam e à tarde me dêem a resposta”…

Conversamos e resolvemos aceitar. Creio que aceitamos assim tão depressa, mais por Miss Douglas do que por Miss Mason. Achamos um privilégio substituir a querida Miss Douglas. Tínhamos, porém, de perder o primeiro estudo (banca) e um recreio, todos os dias. (À noite os jarros eram recolhidos a uma sala, só para este fim). Isto não era de todo desconhecido de nós três, pois, muitas vezes, já havíamos feito este trabalho, só que agora a inteira responsabilidade era somente nossa. Felizmente colher as flores era muito agradável e divertido. Medonho era lavar todos os jarros, no fim da semana…

Miss Mason fiscalizou bem a nossa aptidão… Achava lindo e elogiava cada arranjo que fazíamos. Agora era um ponto de honra para nós três. Caprichamos nos arranjos. Ruim era quando não havia muitas flores… Improvisávamos, às vezes ficávamos aborrecidas, batendo com as tesouras nos dedos, resmungando contra os canteiros, quase sem flor. Ficamos ainda mais amigas, uma ajudando a outra nos seus problemas. Os jarros lavávamos com todo esforço para que brilhassem mais… As folhagens muito nos ajudavam. Na falta de flores, usávamos duas folhas que combinassem com a “flor do dia” e só uma haste de flor em cada jarro. Cada dia, porém, recebíamos elogios das colegas. Isto servia de estímulo para nós.

E assim passamos, quase três anos, neste trabalhinho que nos uniu mais ainda. A nossa turma era de catorze meninas, nos considerávamos “irmãs”. Hilda, Wanda e eu moramos, a maior parte do tempo de internato, no mesmo quarto. Às vezes discutíamos, mas logo combinávamos, ainda que cada uma persistisse no seu ponto de vista…

A maior parte das minhas colegas de turma já faleceu, mas ainda perdura a amizade entre as que estão vivas. Algumas moram longe, como Hilda, que casou com um americano e mora nos Estados Unidos. Hoje ela é viúva. Já possui bisnetos! Muitas vezes sinto saudades delas. Quando escrevemos ou telefonamos, ficamos comovidas… Relembramos os dias felizes do nosso convívio no Agnes…. Valderez

10 Comentários a “A Minha Vida Ficou Mais Florida (9)”

  1. hendrika disse:

    dn Valderez. Gostei muito de suas lembranças do passado.
    Que o Senhor continue lhe abençoando com a habilidade que tens com as mãos e que o Senhor continue abençoando e orientando o Agnes a ser uma escola verdadeiramente evangélica.
    obrigada
    Minka

  2. Isia de Oliveira Gueiros disse:

    Valderêz
    Lendo sua crônica também lembrei o meu tempo no Agnes aonde comecei como aluna tendo concluido o então Curso Ginasial em 1950.Voltei ao Agnes como professora em 1956.Neste período me dediquei ao ensino Pré-Escolar e foi um período muito gostoso .Ainda hoje encontro ex alunas daquele tempo.Encerrei minha carreira profissional como Inspetora Escolar em 1989 pela Secretaria de Educação,trabalhando com Hulda Falcão na Secretaria. Foram bons tempos que deixaram muitas recordações.Obrigado Isia

  3. Vania Lopes disse:

    Olá a todos alunos ou ex-alunos. Professores ou inspetores.
    De repente me deu uma saudade do Agnes!
    Fui aluna no tempo de Miss Mason, e iniciei na escola no ano em que passou a ser permitido crianças do sexo masculino no ensino primário (assim que era chamado na minha época).
    E estudei nesta escola por oito anos, ou até a conclusão do ginasial em 1969.
    E lembro bem que Hulda era uma das inspetoras em minha época.
    E era bárbaro pq existia aula de educação domestica, aprendi a bordar, a cozinhar,rs
    E a escola também me incentivou a ler, a biblioteca era fantastica, imagino como deve estar agora.
    Agora sou médica, e continuo uma leitora voraz.
    Sem contar que meu pai era jornalista, então juntou tudo para meu interesse na leitura.
    Eu fui solista do orfeão da escola , e nos apresentamos algumas vezes na tv.
    E foi onde tive meu primeiro contato com a língua inglesa.
    Bjss Hulda

  4. Sonia Accioly disse:

    Fui aluna do Agnes no periodo 1958-1961 tenho boas recordaçoes e muita vontade de saber noticias das meninas que comigo estudaram . minha formaçao crista devo a este saudoso colegio .Gostei demais de atraves da cronica lembrardaquele lindo jardim .

  5. Gylse Monte Bayma(Gylse Lima Monte) disse:

    Fui da turma de 1958. Quem tiver notícias das ex-alunas internas entre em contato… de 53 a 58… foi uma época maravilhosa!

  6. Gylse Monte Bayma(Gylse Lima Monte) disse:

    Gostaria também de saber notícias das minhas colegas de curso (ginásio e magistério da turma de 58). Entrar em contato com jumoar@ibest.com.br. Notícias também da Hulda Falcão (secretária). Obrigada!

  7. Tiago Abreu disse:

    Minha mãe foi aluna do AGNES no ano de 1955-1959 e o sonho dela é encontrar as amigas de colégio o nome de solteira da minha mãe é (Aldimar Pereira de Abreu ) por favor entrar em contato meu EMAIL é ( abreutiago1@hotmail.com )

  8. ALDIMAR DE ABREU LEITÃO disse:

    ALGUÉM TEM NOTÍCIAS DA (DENISE E DALVANISE) QUE FORAM DA MINHA TURMA DE 1955 ATÉ 1959.

  9. Gylse Monte Bayma disse:

    Gostaria de saber notícia da Sra Hulda Falcão (secretária) e Alice Ribeiro Lira (secret auxiliar), Cilene França (professora) e as internas entre 53 a 58 Bertha de Albuqueque Cesar, Maria do Carmo Alves, Zenilda Morais Magalhães, Zilda Matias de Magalhães, Cleide Miriam da Costa, Edenir Guimarães Cotrim, Eliana Maranhão Azevedo, Ignez de Andrade, Mabel Florentino Cordeiro, Odiza Gomes de Melo, Suzanne Berger, Tercilia Rodrigues de Farias, Valdivia Gueiros Soares, Zuleide Rocha Borba, Orlete Santos, Orlete e Orlany Santos, Neide Matos, Cleide da Costa, Sônia Maçãs, Almise Carvalho, Maria José Araujo, Onida Gomes, Yara Lopes, Maria Laura, Salete Lopes, Maria José Bezerra, Elizeth Ferreira, Edineide Costa, Oneide Ferraz, Lígia Melo, Dulce Costa, Miriam Cerqueira Rangel, Miriam da Cunha Lima, Albertina Marcelina da Silva, Gizelia Lyra de Barros, Maria Balby Occenstein, Jeruza de Macedo.

  10. angelusa c de albuquerque disse:

    Sou sobrinha de Hulda.Ela hoje vive nos Estados Unidos com a filha. Também estudei no Agnes.Que saudade do Professor Abelardo Paes Barreto!

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