A Minha Vida Ficou Mais Florida (3)

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Ontem, a “V” (nossa secretária—ver aqui) e eu saímos cedinho para ir à Feira de Flores na CEAGESP. A nossa missão—achar algo para substituir as flores-do-Natal (poinsétia ou bico-de-papagaio) das janelas da sala de estar que, infelizmente, perderam seu viço e seu vermelho e viraram plantas esvaziadas de folhas, com uma cor verde apagada, sem vigor.

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Quando as colocamos lá, no início de dezembro, ficamos conhecidos no prédio como “a família que colocou as flores nas janelas” (ainda não conheço nem a metade dos moradores mas eles, a maioria residentes de longa data e que têm familiaridade para conversar entre si, sabem quem somos). E, realmente, estava muito lindo. Eu atravessava a rua para comprar remédios na farmácia e pensava com meus botões que o nosso andar dava um certo tom de classe ao edifício todo. E quando amigos vêm para conhecer o nosso novo lar, sempre coloco o andar florido como um dos pontos de referência…

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A princípio, pensamos apenas em usá-las, temporariamente, como uma espécie de enfeite de Natal. Mas, quando janeiro chegou, ficamos com pena de nos desfazer de algo tão bonito e relativamente dispendioso depois de tão pouco tempo de uso. Afinal, são “flores” que podem ser encontradas o ano todo, especialmente nos jardins. Assim, elas ficaram lá até agora.Com medo que um vento grande fosse derrubar algumas plantas, tiramos tudo e “V” pegou a furadeira, fez dois buraquinhos em cada vaso e passou um arame ligando todos às paredes internas. E, ainda, uma corda de náilon por fora. Pois não queríamos acabar sendo levados à justiça por causa da queda de uma ou outra na cabeça de algum vizinho desprevenido…

Enquanto a “V” trabalhava, Mamãe, ela e eu ficamos impressionadas como a sala parecia desfalcada e vazia, dando uma sensação quase desoladora. Já havíamos nos acostumado àquela beleza beirando o perímetro suspenso da nossa moradia, no limiar da nossa visão. Logo decidimos que seria melhor manter as nossas janelas floridas.

Finalmente, conseguimos achar um dia em que eu não tinha outro compromisso (a CEAGESP só abre para o varejo nas terças e sextas de manhã), e lá fomos nós. É apenas a terceira vez que vou dirigindo. Creio que, da próxima vez, conseguirei chegar lá sem olhar o mapa… Não é muito longe mas, por causa do trânsito, levou uns 45 minutos. Entretanto, passaram com relativa rapidez pois são raros os momentos em que a “V” e eu ficamos paradas, lado a lado, para podermos conversar. Assim, valeu para isto também.

Quando adentramos aquele mundo multicolorido, a “V” exclamou –Que pena que Dona Valderez não pode estar aqui para ver tudo isso! Concordei com ela, também lamentando que Mamãe não tem mais ânimo para andar tanto.

Estávamos sem saber muito bem o que escolher… Havia muita opção! Algumas nos atraíam mas algo nos fazia desistir delas. Procurávamos aquela sensação de Achamos! Precisávamos de algo bem colorido. De flores que agüentavam tanto sol quanto vento. Não podiam crescer muito para não bloquear a vista da rua e tirar um dos passatempos dos meus sogros. Resolvemos evitar aquelas que estavam acondicionadas apenas em saquinhos de plástico. Transferi-las para vasos é algo melhor empreendido numa casa com quintal…

Andamos para cima e para baixo, olhando, ponderando, perguntando, debatendo, excluindo… Eu tinha em mente algo que havia visto, ocasionalmente, em jardins e quintais espalhados pela cidade, inclusive perto do mercado onde compro as frutas e verduras que compõem grande parte das nossas refeições. Pareciam com as petúnias que ajudava a minha mãe a plantar anualmente na nossa fazenda no Canadá, para separar a horta do gramado do quintal. Mas eram menores. E eu não sabia o nome delas…

Foram-se os tempos de menina e moça quando eu podia nomear quase todas as plantas ao meu redor!… E isto me frustra! Mas descobri que, aqui em São Paulo, a maioria não sabe me responder quando pergunto. E menos ainda podem informar quais são as plantas nativas… Mas agora estávamos na terra dos especialistas. Certamente poderíamos sair dali com um pouco mais de conhecimento, se nos esforçássemos…

–Qual o nome desta planta, senhor?…
–Ela agüenta sol quente?…
–E vento?…
–Quanto custa?
–Qual o nome mesmo?

No momento do compartilhar dos nomes das plantas, nós simplesmente não conseguíamos decifrar o que os homens falavam a maior parte do tempo (99% dos vendedores que abordamos, atrás dos caminhões enfileirados, eram do sexo masculino). Eles engoliam as palavras, ou falavam baixo, ou tinham sotaque interiorano… Portanto, apesar dos nossos esforços, chegamos em casa sem poder nomear a maioria daquelas que resolvemos não comprar (desta vez). E sem saber o nome de nada que trouxemos! Sabíamos apenas que as que irão enfeitar as janelas eram imp ou emp—alguma coisa…. E que não eram petúnias, nem beijos, apesar de parecidas…

Percebo agora que a melhor coisa a fazer naquele lugar, para uma pessoa desinformada como eu, seria trazer um caderninho e anotar o número e o nome dos vendedores, e fazer com que eles escrevam ou soletrem os nomes das plantas que interessam. Isto também ajudaria a saber para onde voltar se não encontrar algo melhor naquele mundo em que a memória não consegue mais distinguir onde e com quem se viu o que…

As respostas às perguntas sobre sol e vento também variavam. Eu não sabia em quem confiar. Quando nos fixamos na altura e no aspecto das imp ou emp—alguma coisa, a decisão foi facilitada pelas explicações de um rapaz de descendência japonesa. E pelo preço. Doze reais por uma caixa com seis plantas… Escolhemos quatro caixas. A “V” encontrou um senhor de certa idade com uma carroça para levá-las. (Será que existe uma idade mínima naquele local para este serviço? Creio que, se consultassem seus médicos, a maioria seria imediatamente proibida de exercer a profissão!!).

Enquanto voltávamos em direção ao carro, ela chamou a minha atenção para uma planta.
–Dona Betty, a senhora não acha que esta flor ficaria bonita pendurada naquele gancho no teto da sala de jantar? Eu nem me lembrava do gancho mas já podia imaginar a admiração nos olhos de Mamãe. Quando soube que aquele maravilhoso exemplar da criatividade divina custava apenas sete reais, fiz a compra imediatamente. Mas esquecemo-nos de perguntar como ela se chama…

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O preço do estacionamento mais o valor cobrado pelo carregador ficou quase a metade daquilo que pagamos pelas plantas mas, ainda assim, valeu a pena.

Chegamos em casa em tempo de preparar o almoço. Alegramo-nos com o entusiasmo de Mamãe, comentando a delicadeza e a perfeição das flores, a maciez e o formato das pétalas, as nuances e a vivacidade das cores… Ela acompanhou o pendurar da planta da sala de jantar e vive passando por baixo, levemente tocando as flores para examiná-las melhor.

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Hoje de manhã, fez a mesma coisa, enquanto ela e “L”, juntas, admiravam as novas aquisições. (“L” é irmã de “V” e também tem “dedo verde”—é ela que sobe numa escadinha para cuidar das dezenas de plantas que, incrivelmente, vicejam em cima dos armários da cozinha e na área de serviço.) De cabeças juntas, olhando para cima e para baixo, as duas se esforçavam, meio em vão, para reproduzir em palavras o seu encanto. E Mamãe, como sempre, de coração transbordando com admiração pelo privilegio de poder presenciar amostras tão belas da bondade do nosso Deus, louvava a Ele pela perfeição nas minúcias e detalhes da sua habilidosa criação.

As outras plantas, por enquanto, estão enfileiradas em cima de jornal velho, abaixo daquelas que ainda estão nas janelas. Meu marido e meu sogro estão “reclamando” que estamos tentando “transformar a casa em floresta” mas sabemos que eles se alegram com o nosso entusiasmo. Na segunda-feira, pretendemos empreender a operação da substituição. As plantas “velhas” irão para a casa de “V” e “L” onde elas as podarão e tratarão nos seus quintais, na esperança de vê-las recuperarem a beleza anterior.

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Procurei identificá-las na Internet e concluí que, para as janelas, compramos algo chamado impatiens, (também conhecido pelo nome mais prosaico de “Maria-sem-Vergonha”). E a da sala de jantar, cujas flores mesclam o roxo com cor-de-rosa, chama-se fúcsia com um apelido bem mais belo—“brincos de princesa”.

Depois espero colocar uma foto da transformação final.
Betty

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