O Som do Silêncio

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(Em apreciação pelo Seminário para Escritores promovido pela Editora Mundo Cristão em São Paulo, agosto de 1997)

O som do silêncio
ressoa na sala
do seminário.

Sentados solenemente,
esperamos ansiosos,
segredos e sugestões.

Os participantes—
pessoas cujos pensamentos
proliferam em palavras,
persistindo em
povoar papeis.

Escritores,
principiantes,
pretendentes,
profissionais.

Pensativos,
procuram a pauta,
ponderam as apostilas,
perscrutam os companheiros,
aplaudem os preletores.

Os olhos dos palestrantes
percorrem a platéia.

Percebem o prazer
dos principiantes.
Procuradores promissores de
parâmetros e inspiração.

Percebem a preocupação
das pesssoas
com “propostas de projeto”
peregrinando em pastas pesadas,
implorando publicação,
perplexas perante a
“pouca perspicácia”
dos potentados publicadores.

Percebem os profissionais.
Especialistas comprometidos,
prontificando-se para
perder a prolixidade e
aperfeiçoar a perícia
na precisa expressão
das suas ponderações.

Os preletores
compartilham
preciosidades do passado.
Pinceladas de poesia
nas paredes
da nossa percepção.
Pérolas de prosa
penduradas nos portais
da possível perfeição.

O pitoresco das pregações
do “padre do pó”;
A proeza
de Paraiso Perdido;
Pronunciamentos patrióticos,…

Palavras,
desde o prisco
até o pós-moderno,
perdurando,
persuadindo,
posicionando,
pronunciando,
prestigiando,
provocando,
inspirando…

Projetam o perfil da perfeição.
Prescrevem
pesquisa e preparação,
planejamento e precisão,
paixão e transpiração.

Promovem
passos primários
como participação
em panelinhas
e periódicos.

Penetram os processos
da publicação.

E permanecemos assim:
os principiantes progredindo,
os pretendentes pleiteando,
os profissionais parabenizando.

Que o produto principal
destas palestras proferidas
possa ser
impressos primorosos
nos prelos
das publicadoras
deste país,
para que
o poder das nosssas palavras
possa proporcionar
ao nosso povo
e à nossa posteridade.

Sabedoria e satisfação,
surpresa e sonho,
sucesso e salvação.
Sempre servindo
ao nosso supremo
Senhor e Salvador.

–Elizabeth Zekveld Portela
São Paulo, agosto de 1997

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