A Minha Vida Ficou mais Florida

Crônicas do Cotidiano > A Minha Vida Ficou mais Florida

Já comentei de passagem que meus sogros vieram de Recife para morar conosco em São Paulo em agosto de 2007. Alugamos um apartamento um pouco maior e juntamos os nossos pertences nele. Um dia quero compartilhar mais sobre vários aspectos desta nova experiência, tanto do ponto-de-vista deles quanto do nosso. Mas hoje pretendo contar um pouco sobre uma faceta bem agradável desta convivência. Pois, convivendo com Mamãe, A MINHA VIDA FICOU MAIS FLORIDA.

Flores23Maio21.jpg

—Betty, olhe aí. ‘Tá vendo aquela árvore?… Veja aquele arbusto na frente da casa cor-de-rosa!… Aquele pé lembra o flamboyant lá de nossa casa de Recife….

É isto que escuto todo domingo quando andamos boa parte da cidade para chegar à igreja. E também nos nossos “passeios” a médicos, laboratórios e clínicas. Enquanto meu marido e sogro observam e debatem imagens mais prosaicas ao longo do caminho, Mamãe percebe a poesia da natureza em todo lugar. Ela pouco se preocupa com o carro novo da Toyota que surge na nossa frente, com o fluxo do trânsito, ou com o progresso nas estruturas arquitetônicas sendo construídas adjacentes às avenidas que percorremos. Ou se a prefeitura já começou a tirar o entulho ao redor do novo túnel para o aeroporto, três meses depois de tê-lo inaugurado… Ou por que há tanta diferença entre os marcadores de temperatura ao longo do caminho… Esses são os assuntos que ocupam as conversas dos homens sentados à nossa frente…

Não, os olhos e o coração de Mamãe já se enchem com a variação nas tonalidades de verde da folhagem. E ela fica ainda mais deslumbrada com a exuberância e o colorido das flores adornando a cidade—transfigurando a metrópole, que deveria ser uma selva de pedra e veículos, num belo jardim. Ela diz coisas como: —“Minha filha, veja que lindo! Tudo que Deus faz é muito bonito! Imagine como deve ter sido no começo… Com Adão e Eva no jardim curtindo aquela beleza…”

Muitas vezes, uma espécie de árvore, um tipo de flor ou uma combinação de cores, despertam lembranças de pessoas e lugares dos seus tempos de criança no nordeste do Brasil. E ela começa a compartilhar várias recordações—até as tristes—conservadas e acondicionadas na sua mente, num arquivo florido e multicolorido. Enquanto ela fala e eu escuto, nossos olhos continuam a perscrutar as plantas que passam, enquanto nossos dedos apontam uma nova cor ou uma nova espécie, e nossos corações se unem em apreciação à bondade e beleza de Deus que percebemos, atravessando o passado até o presente.

Mamãe perpetuou esta perspectiva de vida num livro de memórias que preparou e deu para seus netos no fim de 2004, a pedido deles, já com 81 anos (livro datilografado por Papai no computador, aos 80!). Ela me concedeu permissão (meio relutante) de transcrever algumas partes para vocês. Postarei estas nos próximos dias. Betty

Um Comentário a “A Minha Vida Ficou mais Florida”

  1. Isia de Oliveira Gueiros disse:

    Betty
    Você é uma felizarda em ter uma sogra como Valderez.Lembro com saudades do tempo em que ela foi minha professora na Escola Dominical.Os dias em que tivemos contato agora foram muito bons. Senti não ter tirado fotos.Se poder passarei aí só para isso.Vamos ver se esse comentário vai ser mesmo enviado.Isia

Deixe o seu comentário

Crônicas do Cotidiano > A Minha Vida Ficou mais Florida